sexta-feira, 21 de junho de 2013

Protestos contemporâneos e suas controvérsias...


"O maior inimigo de um governo é um povo culto."

Que eu nunca fui muito patriota, isso não é novidade. Quem me conhece sabe que eu nunca me orgulhei do meu país e nunca abracei essa nação como a maioria das pessoas fazem, eu nunca tive um bom motivo pra me orgulhar muito de um país mal administrado, com um povo de mente tão fechada e tão infinitamente manipulado. Também nunca fui extremamente ligada aos assuntos políticos, se me perguntar, eu sinceramente não sei muito sobre. Mas é impossível ignorar o assunto totalmente quando algo como os últimos acontecimentos explode bem na nossa cara. Nos últimos dias com todo esse "surto revolucionário", pude até experimentar um pouco desse "orgulho de ser brasileira", que até então eu não conhecia. Primeiramente, deixo bem claro que eu apoio o movimento e eu dou todo o meu incentivo à quem está lá lutando e acreditando, afinal, todo tipo de protesto é válido. Até mais do que isso, eu acredito nas pessoas que estão lá, eu respeito com todo o meu coração o que elas tem em mente, porque pela primeira vez é algo que não está relacionado ao futebol, é algo importante.
Eu não, eu não fui pras ruas e não sei se pretendo. No Facebook eu não paro de receber convites para participar dos protestos, aqui em Curitiba já devem estar no quarto ou quinto ato, enquanto a Região Metropolitana, que é onde eu vivo também está se organizando para também apoiar a causa, mas o primeiro ato só irá ocorrer no sábado (22). No primeiro momento, eu quis ir, quis me sentir parte da história, parte do Brasil, parte de algo que vale à pena, porém depois eu acabei repensando sobre todo o movimento, desde o início dele e acabei percebendo que o foco desses protestos ainda não estão exatamente centrados, não estão bem focados e nós ainda estamos sendo motivo de piada para o Governo.
Não estou, de forma alguma, desmerecendo o movimento todo, eu aprecio o que está sendo feito, até tenho um bocado de fé no país, acho bonito ver que o povo está acordando e que está caminhando pelas ruas e gritando pelos seus direitos. Mas muita gente ainda não abriu os olhos de verdade e isso é um fato. Alguns só mudaram de lugar, "saíram do Facebook" e foram conduzidos até as ruas e estão lá segurando cartazes e berrando, mas eles não sabem nem o real motivo daquilo. Acredito eu que muita gente ainda deve estar pensando que o protesto todo se deve à revolta sobre a tarifa do transporte pública e os gastos com a Copa  das Confederações, quando isso na verdade foi apenas a gota d'água.
Esses protestos são apenas um começo dessa revolução que o Brasil tanto quer ver e estão longe de ser a solução se o esperado for que continue da mesma forma desde o início até o fim. É claro que eu adoraria que os problemas do país pudessem se resolver com o mínimo de violência possível, uma revolução que promovesse a paz e toda essa vibe Lennon&Yoko de "war is over", mas no mundo real não é assim que funciona e até eu sei disso. Não é assim que se faz história. Mas ainda vou chegar nesse ponto.
O ideal que foi iniciado com esses protestos está corretíssimo, eu tenho certeza que até hoje, todos os protestos em prol de causas grandes também tinham esse desejo utópico de agir sem violência, afinal de contas, todo mundo prefere não morrer por uma causa. Mas aí fica a grande dúvida: os mesmos ativistas que estão agora lá fora estariam dispostos a morrer pela pátria amada? Muitos já sangraram por ele nas manifestações, pois os protestos começaram pacíficos e se tornaram um caos enorme principalmente nas grandes cidades como Rio de Janeiro e em São Paulo. Não soube de muitos transtornos aqui em Curitiba, mas provavelmente também não deve ter sido de toda a paz, afinal, mesmo sendo um evento de paz, foi um evento que nasceu da raiva e da frustração do povo brasileiro.
O povo todo tem muita raiva acumulada. Muitos mantinham essa raiva em casa, os mais jovens descontavam no Facebook e no Twitter e ai então eles resolveram sair nas ruas e exteriorizar toda essa raiva, toda essa revolta. Por um lado, toda essa conexão do mundo com a rede fez com que a notícia se espalhasse muito mais depressa do que antigamente aconteceria, onde seria necessário esperar a televisão falar sobre ou mais antigamente ainda quando era necessário esperar a publicação dos acontecimentos no jornal. Sair nas ruas foi a parte boa e correta, foi esse sentimento de raiva e toda essa frustração que os tirou de casa que os levou até as ruas. Mas raiva é um sentimento que cresce, até porque essa raiva que nós temos é uma herança de pátria, vem desde os abusos sofridos enquanto éramos ainda Brasil-colônia e vem nos alimentando de raiva e indignação através dos tempos. O que me leva a pensar que é tanta raiva guardada que demorei até demais pras pessoas decidirem que era hora de agir. Porém, chegamos aqui no empasse: eu não vejo sentido em começar uma revolução que não se tenha a intenção de terminar. Se é pra fazer uma guerra, que seja pra valer e que sejam vistos os resultados. E não, eu não estou sendo radicalista, o cenário que muitos visualizaram durante os protestos foi um cenário de guerra. É desse modo que elas começam, não tem como se iludir e pensar que isso é tão diferente do que se vê nos livros de história.
Mas aí entra um dos pontos importantes, que é o foco do povo, o que eles estão querendo alcançar de verdade? E o que eu vejo aos montes nesses protestos é uma falta de foco enorme, eu acho que a maioria das pessoas não sabe exatamente pelo quê elas estão brigando e gritando.
É tudo muito bonito de se ver, mas por enquanto esse também é o maior problema, tá bonito demais. O povo está sendo passivo-agressivo demais. Eles ainda não estão incomodando o Governo o suficiente para que eles ouçam a nossa voz, a prova disso é esse projeto da tal "Cura Gay", enquanto o povo está protestando de um lado, os políticos estão lá do alto rindo da nossa cara e nos cutucando mais ainda. Mas tudo começa com pequenos passos, sei que começamos pela tarifa do transporte público, que de fato é um absurdo e aí resolveu, mas eu tenho medo que o povo se contente com as esmolas do Governo e que eles se curvem novamente diante do pouco que é oferecido para que sejamos silenciados. Essa manipulação acontece desde que o mundo é mundo, mas o que me deixa mais admirada é que, desde que aprendi a falar sei que "a maioria vence" e, até onde sei, existe mais povo do que políticos e mesmo assim nós somos controlados como marionetes. Como é que as pessoas não conseguiam perceber isso?
É aqui que entra a maior das ironias. Querendo ou não, o nosso sistema é democrático. Pode ser uma democracia bem torta, mas ainda assim não deixa de ser uma democracia, pois, enquanto ainda for possível votar em candidatos que nós mesmos escolhemos, somos considerados um país democrático. E se nós fazemos parte das decisões do país, então nós somos sim os culpados por esse caos, pois quem colocou a Dilma lá em cima? "Ah, mas eu não votei na Dilma!" Agora todo mundo tem esse argumento, mas ela jamais teria chegado a presidência se a maioria não tivesse colocado ela lá em cima. Aqui, eu voltaria no tópico sobre a educação, mas ainda vou chegar lá, deixarei esse assunto para o final.
Eu vou dar um exemplo em proporções menores, para explicar a minha linha de raciocínio sobre a falta de informação e sobre como o povo se dobra facilmente diante dos candidatos. O exemplo é da minha própria cidadezinha metropolitana que nas eleições passadas elegeu um antigo prefeito da cidade que havia sido simplesmente péssimo com o povo e com as necessidades do povo. Eu morei em um bairro no tempo de mandato desse prefeito onde as ruas não possuíam sequer anti-pó. O que aconteceu? Depois de vetar as obras várias e várias vezes, ele ironicamente chegou a dizer que só faria a reforma das ruas se trouxessem a ele um abaixo-assinado com a assinatura de todos os moradores do bairro. O que aconteceu é que foi a minha mãe que bateu de porta em porta colhendo assinaturas das pessoas. Eu lembro, eu estive lá. Eu vi pessoas se recusarem a assinar porque não queriam se envolver, pessoas que "logo iriam se mudar" e que a elas não interessava participar. Mas o número de assinaturas que ela conseguiu foi grande, o prefeito precisou ceder, mas não foi de bom grado. Eu até me lembro quando eles começaram as reformas por lá, o anti-pó foi tão precário que não resolveu muita coisa, mas aí não tinha mais o que fazer. Então a gente se mudou pra outro bairro, que é o bairro onde eu moro agora.
Que é trabalho dos vereadores cuidar dos bairros, isso todo mundo sabe. Eles servem pra manter a ordem, mas a maioria na realidade só quer mesmo é saber do dinheiro, porém, apesar de provavelmente parecer piada, nem todo político é corrupto, existem políticos que realmente se empenham em cuidar das pessoas. O nosso digníssimo prefeito da história do anti-pó, que perdeu na eleição anterior, porém, nessa do ano passado, venceu. O que ele fez logo no primeiro momento do seu poder? Cortou a verba dos vereadores que é destinada a cuidar do povo nos bairros. "Ué, mas isso não é bom? O dinheiro seria todo desviado mesmo...", é o que você se pergunta. Mas como eu disse, nem todo o político é corrupto. Aqui no meu bairro existe uma dessas raridades. Um dos vereadores daqui sempre ajudava o povo com esse dinheiro, comprando os remédios que não podiam ser retirados no posto de saúde e até mesmo ajudava com equipamentos pós-cirúrgicos necessários para recuperação, como muletas e cadeiras de rodas, transportava as pessoas de carro quando elas precisavam de atendimento na área da saúde. E isso sem cobrar nada. Eu disse nada, nunca vi em todos esses anos esse vereador pedindo votos para as pessoas que conheço e que já precisaram da ajuda dele em troca dos favores, ele fazia isso pela sua obrigação com o povo. E o que aconteceu? A maioria das pessoas não votaram nele na eleição passada. As mesmas pessoas que ainda vão lá atrás dos favores. E os favores à respeito da saúde são só uma face das muitas coisas que eu já vi esse homem fazer pelas pessoas.
Pelo que sei, ele quase perdeu o cargo nessa eleição e, claro, ficou frustrado com as pessoas. O prefeito vetou o dinheiro destinado ao povo, confiscou os itens de uso público e isso só pra começar. Eu também fiquei frustrada com o povo. Mas mais do que isso, eu fiquei absolutamente incrédula com a falta de inteligência e a falta de informação do povo. A capacidade que as pessoas tem de se curvar diante do Poder por nada mais que, talvez, uma cesta básica na época das eleições ou reformas que automaticamente congelam assim que as eleições acabam.
A história toda do vereador daqui do bairro não é lenda pra criança dormir, é verídica. A minha própria mãe - que considero uma mulher extremamente forte por tudo que já passou - foi submetida a diversas cirurgias já e precisou desses cuidados todos, necessitou usar uma cadeira de rodas por um bom tempo quando operou a coluna e facilitou muito a nossa vida ter essa ajuda, ela também precisou de muletas em outra ocasião. Fora os remédios pós-cirúrgicos que são caros, o tratamento todo pós-cirúrgico até que a pessoa se recupere e fique novamente saudável é caro. A nossa saúde é algo que custa caro, pra ser sincera. Agora peço apenas imaginem como seria se ela operasse hoje? Sem a verba, sem ajuda alguma do governo, tendo que depender do SUS e da própria sorte. E eu estou falando apenas de um bairro. Mas é o comportamento desse bairro que eu vejo refletido no comportamento de todo o país e que resulta em pessoas como a Dilma no poder, usufruindo dos nossos bens, do nosso dinheiro pra saúde. E tudo isso por quê? Porque o país não tem instrução.
Eu finalmente cheguei no ponto crucial disso tudo. Toda a deficiência do Brasil está na educação. E esse é um problema centenário. Os protestantes e os ativistas que me perdoem, mas vamos abrir os olhos de verdade, o maior problema não é a Rede Globo ou a televisão. Vi muitos dos ativistas reclamando das informações manipuladas da televisão, mas eis o grande fator: a televisão NÃO É o único meio de informação. O problema já está instalado aqui, na mente de cada um dos brasileiros, desde muito antes da televisão se tornar um bem-comum. A qualidade de ensino do Brasil é precária desde muito tempo, porque o país não quer pessoas inteligentes e bem instruídas, o país quer pessoas ingênuas, pessoas fáceis de enganar e de manipular. Pessoas que acreditam em discursos de políticos que alegam que "já foram pobres" e que são "gente como a gente". E o povo compra essa baboseira, o povo se entrega fácil, se comove por um bocado de palavras e se curva de olhos fechados, porque não tem instrução o suficiente pra discernir meia dúzia das palavras que são usadas para confundir a cabeça das pessoas, eles não aprenderam a interpretar e nem a ler em entrelinhas, não sabem identificar ironias e, definitivamente, não sabem PESQUISAR ANTES.
Sim, pesquisar. Eu vejo na internet, pelo menos uma vez ao dia, descobertas feitas pelas pessoas que são aterrorizantes. Desde os assuntos encontrados na famosa DeepWeb, mas até mesmo ao que se encontra ali no raso, na SurfaceWeb. Todo político antes de ser político é um ser humano e seres humanos cometem erros. Mas me diz você, caro cidadão ativista e caro colega protestante, no que vai adiantar desenterrar esses erros depois de ter colocado qualquer pessoa lá em cima para nos governar? Caçar informações comprometedoras e "atirar a merda toda no ventilador" não vai fazer diferença alguma depois que o grandão já está lá em cima e bem acima de nós. Os protestos não vão fazer com que a Dilma seja derrubada. E se ela for, quem vai assumir o país no lugar dela, vai ser alguém ainda pior, o Governo não vai se curvar diante do povo e iniciar uma nova campanha política porque o povo está insatisfeito com o líder que foram eles mesmos que escolheram. Oh, sim, o Brasil já derrubou um Presidente antes. Sim e muita gente precisou morrer e dar o próprio sangue pra isso funcionar, coisa que os ativistas modernos não me parecem estar muito empolgados em oferecer.
É claro que se você cutuca demais um vespeiro, pode demorar, mas uma hora elas vão ficar irritadas e vão vir atrás de você. Com o povo e com o governo é a mesma coisa, o governo cutuca o povo com uma vara, cutuca por anos, com juros que - pra quem não tem informação - quase nem podem ser notados, esses juros aumentam todo o mês, o salário dura cada vez menos, o dinheiro parece magicamente desaparecer e as pessoas continuam pobres, mas trabalhando honestamente e carregando no peito o tal "orgulho de ser brasileiro". E daí, não é verdade? No final de semana tem jogo! Tudo que importa é uma cervejinha - e mais juros - e uma televisão, não é verdade? Mas isso não acontece porque a Globo impôs que fosse assim, isso acontece apenas porque o tal senhor cidadão não sabe pra onde deve olhar. Comprar jornais deveria ainda ser um hábito. LER deveria ser um hábito. Em contrapartida, o povo finalmente cansa e resolve atacar o governo com os protestos, mas eles ainda não sabem como devem atacar, eles só tem uma ideia muito boa, mas não possuem sequer informação o suficiente para traçar as suas estratégias.
A solução óbvia é que, se o país não nos dá a educação necessária que nós precisamos, então primeiramente é necessário que se trabalhe nisso, a revolução deveria começar com os professores, estes deveriam levar aos seus pupilos o conteúdo que os fizesse acordar. E os protestos devem continuar, o povo não deve recuar e nem desistir, mas é preciso que se tenha em mente o que esperar, é preciso que o povo tenha consciência de que isso pode crescer, que isso PRECISA crescer. Que uma revolução tem um preço alto e que fazer história não é brincadeira. Eu tenho fé no povo, sim, mas ela não é cega. Como venho dizendo desde o início desses manifestos, é muito bonito o que todo mundo vem fazendo, o envolvimento é a coisa mais bela de se ver, lindos cartazes, até ouso dizer que alguns conseguem encontrar um pouco de diversão nestes protestos, mas, querendo ou não, é preciso se focar na raiva que carregamos em nós. A raiva de sermos sempre passados para trás, a raiva de sermos enganados, humilhados, feitos de bestas. A revolução deve continuar, deve ser levada até o fim. O Brasil precisa entender que não existem conquistas sem pelo menos um pouco de sangue derramado. Eu não estou promovendo a violência, estou promovendo fatos.

FOCO, BRASIL! FOCO NO QUE É IMPORTANTE!

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