quinta-feira, 20 de junho de 2013

Caixas


Eu acho que perdi a cabeça. Ou parte dela, talvez. Sempre quis acreditar - mesmo de certa forma não acreditando nem um pouco - que tudo era sempre uma questão de tempo. Bom, não dessa vez. Já faz tanto tempo que isso passou, o mundo já deve ter dado milhares de voltas e eu ainda consigo sentir essa maldita falta. Um vício é um vício, é o que eu continuo dizendo a mim mesma depois de tanto tempo. Porém eu já tentei substituir esse vício por outros e nada nunca deu certo. Tudo é inútil quando se trata de uma coisa tão incompreensível quanto essa. Amor… Não deveria ser desse jeito. Ou deveria?
Talvez a euforia da minha juventude tenha me corrompido. Tanto que eu cheguei a me perder cedo demais. Não tenho nem 20 anos e já me sinto correndo atrás da esperança como se ela insistisse em escapar como fumaça entre os meus dedos. Ela simplesmente foge, deixando um rastro de desânimo e falta de luz por onde passa e se afasta. Embora eu seja jovem, sinto o gosto amargo de ter passado uma vida inteira desperdiçando oportunidades, mas isso não é nada, nada comparado ao amargo gosto de se apaixonar.
O frustrante nessa história toda, é ter experimentado esse veneno tão cedo e sentir-me tão lentamente apodrecendo por dentro e sem poder fazer nada, absolutamente nada. Tem também o gosto ácido e amargo da certeza - e talvez o alívio, ao mesmo tempo - de que isso não tornará a acontecer comigo em tamanha proporção. Mas gostaria de ter provado disso quando não tivesse mais muito a perder, nesse momento eu ainda precisava da minha esperança.
Tudo pode ser relacionado a uma caixa. Ou várias delas. Eu adoro caixas, ainda consigo usufruir de alguns pequenos prazeres mundanos e banais, tais como a beleza de certos objetos. Minha vida, na verdade, a vida de todo mundo é apenas um amontoado de caixas, pacotes de presente. Desde criança você vai abrindo cada um, passa a vida toda abrindo essas caixas e descobrindo coisas novas dentro delas: seus sentimentos. Algumas dessas caixas, porém, contém avisos de frágil, algumas até estão certamente lacradas e é difícil abrir, o aviso nestas é claro: não tente abrir. Mas o que nós fazemos? Depois de abrir todas as caixas coloridas com laços, nos restam as caixas com cadeados, as que temos que iniciar uma busca pela chave, tem aquelas que precisamos de ajuda pra abrir.
Uma delas é uma caixa preta bem pequenininha, chama a atenção, mas ao mesmo tempo, nela, algo causa uma sensação esquisita. Medo, talvez. Tem um bilhetinho em cima dessa caixa, num gracioso envelope também preto. Você não arrisca chegar muito perto dessa caixa, porque ao mesmo tempo ela te aterroriza, você não quer saber o que tem ali. E tem um motivo pra isso: aquela é a última caixa que você vai abrir na sua vida. Quando já estiver tão cansado de abrir caixas e talvez você se canse disso bem rápido, talvez continue ainda por anos e anos, abrindo caixas, encontrando chaves para as que estão trancadas, ignorando todos os avisos de perigo, mas até que você crie coragem o suficiente para abrir aquela caixinha pequenininha preta, você não vai parar de abrir caixas.
Dentro dessa caixa, um mistério. A única coisa que sei é que depois de aberta, é paz, apenas paz que se encontra ali dentro. Como pode caber tanta paz em um embrulho tão pequeno? Alguns dizem que ali dentro estão todas as respostas da caixa de dúvidas que você, teimoso, insistiu em abrir. Outros dizem que ali estão guardados todos aqueles momentos em que você foi feliz, pois todos eles voltam comprimidos para essa caixa e se acomodam ali. Eu particularmente não acredito em nenhuma dessas hipóteses. Na minha caixa preta, eu acredito que exista uma luz. Mas uma luz tão grande, tão forte, tão bonita, que nada mais terá importância. Uma luz de felicidade, tranquilidade e paz. Uma paz singular, uma paz que não necessite de mais ninguém. Paz pura e verdadeira.
Às vezes quis abrir essa caixa e acabar logo com isso tudo, quis abrir a minha caixa preta e encontrar a minha luz, pois acreditava que já havia dado a esse mundo o suficiente. Mas não fui capaz, não cheguei nem perto de ler o que estava escrito dentro do envelope. Um dia e talvez nem demore tanto, eu crie coragem de abrir a minha caixa preta. A curiosidade cresce a cada dia mais, enquanto o estoque de esperança em uma caixa que eu nem lembro como se parece, pouco a pouco vai se transformando em nada. Talvez eu espere que esse processo se conclua para poder abrir a minha caixa preta. Talvez não.

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