quinta-feira, 20 de junho de 2013

O velho e a moça


Havia este homem, ele deveria ter uns 75 anos, na certa. Modo esquisito de se iniciar um relato, talvez, mas é exatamente como eu poderia definir essa experiência: esquisita. Durante toda a semana, sempre que eu me sentava no banco e mergulhava em algum dos meus livros, era só eu olhar para o lado e ali estava aquele homem sentado, quase catatônico, como se não tivesse nada melhor pra fazer do que ficar sentado ali olhando para a fastidiosidade do nada na minha praça.

Eu não queria ser mal educada e nem poderia, afinal, nós estávamos em um lugar público e eu tinha tanto direito quanto aquele homem de estar ali. Na realidade, estou certa de que aos olhos de outras pessoas mais velhas, aquele homem tinha mais direitos do que eu em basicamente tudo, porque, pelo que eu enxerguei por aí a minha vida toda, somente quando você envelhece as pessoas resolvem te tratar com cortesia, talvez porque pensam que logo você não vai mais poder sair na rua ou mesmo que pode nem vir a acordar na próxima manhã, então as pessoas tendem a ligar um botão automático de gentileza sempre que aparece uma pessoa velha em qualquer ambiente. Essa gentileza camufla o real sentimento de alguém que vê uma pessoa idosa: pena. Mas não vá pensando que eles sentem pena da pessoa, claro que podem até sentir, mas acredito eu que sintam pena de si mesmos, como se aquela pessoa velha fosse um reflexo de seu próprio futuro, um futuro que existe tanta relutância a ser aceito.

E no caso desse homem, eu nunca sabia de onde ele surgia, mas era como se ele escolhesse sempre a mesma hora que eu para estar ali. Talvez seja pelo motivo do espelho do futuro que a sua presença me incomodasse tanto. E essa era só uma das possíveis e diversas razões que faziam eu me sentir incomodada. Primeiro, eu não sabia nem quem ele era e achava no mínimo suspeita aquela atitude; e eu também nunca o via chegar, mas ele estava sempre ali quando eu olhava novamente; esse homem nunca dizia nada, apenas permanecia calado e entretido com o vazio daquela praça, mas fazia isso como se tirasse um prazer enorme de toda aquela monotonia. Aliás, esse era o maior motivo que eu me deslocava da minha casa até aquela praça todos os dias, fosse para ler, fosse apenas para desfrutar do nada e do silêncio – assim como o homem intruso. Ninguém mais escolhia aquele lugar para sentar, eu poderia fumar os meus cigarros, ler os meus livros e podia não fazer nada e estava tudo bem, ninguém poderia me julgar, eu estava longe dos olhares de todos, tinha sobre mim apenas os olhos do céu azul (ou cinza, dependendo do dia), o das árvores que já não eram muitas por ali e de vez em quando, dos pombos que, aliás, eu achava criaturas adoráveis, diferente da maioria das pessoas que eu conheci que sempre mostraram um misto de medo descomunal e repulsa por esses animais. E tudo isso fazia parte de uma linearidade repleta de paz, nada ali mudava, eu não podia perder nada ali naquela paisagem, eu poderia ir embora e quando eu voltasse no dia seguinte tudo estaria exatamente do mesmo jeito. Mas a partir do momento que aquele homem resolveu escolher aquela praça e aquele horário para se sentar todos os dias, aquilo me incomodou, pois eu sentia como se estivessem roubando a paisagem impenetrável e segura da minha praça, adicionando nela mais um componente que não pertencia à sua estrutura original. E eu não gostava, era o único lugar onde eu não tinha que lidar com as constantes mudanças que me perseguiam o tempo todo. E de certa forma, eu tinha medo daquele homem, ele poderia estar me seguindo, poderia ser um tarado, alguém extremamente mal intencionado, eu me sentia observada o tempo todo e vulnerável, não me sentia mais confortável no meu lugar favorito.

A única escolha que eu tinha era aceitar que na minha praça havia um novo elemento e me acostumar com aquilo. Talvez seja cruel pensar que, assim como pensam todas as outras pessoas, na idade que aquele homem se encontrava eu não precisaria me preocupar muito com isso, pois logo o curso natural da vida faria o seu trabalho. Que coisa horrível pra se pensar!

Certo dia o tal homem não apareceu. Mas não me importei, eu deveria ficar contente com o fato de que a minha praça era novamente minha, afinal, era o que eu queria, que o homem parasse de frequentá-la e simplesmente me deixasse em paz.

Porém quando fui pra casa, não podia deixar de pensar nas coisas horríveis que eu havia pensado sobre o homem, fiquei por muito tempo pensando sobre o fato de que ele, aquele senhor, nada fazia além de observar o silêncio e se sentar ali comigo. Ele não me incomodava e eu, mesquinha como sou, queria a praça só para mim. Me senti culpada pelos meus pensamentos, afinal de contas, uma coisa não havia me ocorrido: eu estive sozinha por tanto tempo naquela praça, que não poderia aceitar a presença de outra pessoa ali, quebrando a minha privacidade, invadindo algo que era meu, fazendo parte da minha vida. Eu estive sozinha por tanto tempo que não podia aceitar que finalmente tinha uma companhia que apreciava o silêncio tanto quanto eu. Senti a cabeça pesada com tantas coisas passando por ali ao mesmo tempo. A coisa sobre o espelho. Um dia, vou ser eu no banco de uma praça, velha, as pessoas vão olhar para mim com um olhar de piedade, me tratar como se eu fosse de porcelana e desejar que eu vá embora e não volte mais. As pessoas costumam sentir-se responsáveis pelos idosos, mesmo os que eles não conhecem, pois eles também demonstram certa fragilidade e isso as coloca em desespero, um desespero contido de que um dia sua vez irá chegar.

Não consegui ler quando cheguei em casa, não consegui comer, não consegui ouvir música. Só conseguia pensar no senhor da praça, no motivo dele não ter aparecido naquele dia. Nunca conversei com ele, mas o fato de ele ser a única pessoa frequentando aquela praça junto comigo o tornava meu cúmplice em silêncio. Sem nunca termos trocado sequer uma palavra, a partir do momento que ele se sentou naquele banco, ele se tornou testemunha de uma rotina alheia e essa rotina era a minha. Sem nunca ter nem falado comigo, aquele homem se tornou parte da minha vida. Assim como as pessoas com quem a gente esbarra na rua, os rostos que passam pela gente, toda pessoa com quem a gente interage e até mesmo aquelas pessoas que você olha por cinco segundos e depois nunca mais vê. Essas pessoas todas fazem parte da sua vida, você querendo ou não. Penso que aquele senhor também poderia se sentir desconfortável com a minha presença, nunca me ocorreu que talvez ele frequentasse aquela praça muito antes de eu pensar em nascer e por algum motivo de nostalgia, havia resolvido passar suas tardes ali. Pode ser que ele tenha conhecido seu primeiro amor naquele banco, talvez ela tenha sentado exatamente onde eu gosto de me sentar e fizesse a mesma coisa que eu todos os dias. Talvez ele tenha crescido nessa cidade e se mudou, mas pôde voltar e estava apenas matando as saudades de uma antiga praça na qual viveu bons momentos. Talvez ele tivesse o costume de ler ali, assim como eu fazia, mas a vista cansada não o permitia mais ler. Talvez ele escrevesse ou desenhasse. São tantas as possibilidades que a minha cabeça pequena e egoísta não podia calcular. Eu só queria a minha praça vazia, queria tanto que cheguei a pensar coisas horríveis, quando na realidade, eu não tinha direito algum sobre ela.

Dormi muito tarde naquela noite. Tive um sono agitado, me senti mal durante a madrugada toda. De manhã eu acordei com uma aparência péssima, na escola, como de costume, não falei com ninguém. Eu havia esquecido do senhor da praça, mas na aula de português, por alguma coincidência o professor nos fez refletir sobre uma música chamada “O Velho e o Moço”. Eu gostava daquela música, mas por alguma razão eu não queria estudar sobre ela, não naquele momento. Eu não queria sentir a culpa dos meus pensamentos pesando sobre mim outra vez. Do modo como eu via aquilo tudo, era como se eu tivesse cometido um crime muito grave. Eu sentia dentro de mim como se eu tivesse matado aquele senhor da praça. Eu o matei com os meus pensamentos.

Depois da escola, eu tracei a minha rotina, não queria permitir que a minha paranoia e a guerra que eu travava constantemente com a minha própria mente me impedisse novamente de realizar minhas tarefas. Foi tanto tempo tentando lidar com os meus problemas, sozinha, sem dizer a ninguém tudo aquilo que eu pensava. Na minha mente, eu já cometi milhares de suicídios e também milhares de homicídios. Mas nenhum jamais fez eu me sentir culpada. Nenhum, até hoje, até eu matar o senhor da praça. Mesmo assim voltei ao local do meu crime. Acendi um cigarro e fechei meus olhos, coloquei os fones. Talvez por ironia, coincidência ou a falta de ambas, era o concerto das Quatro Estações de Vivaldi que havia começado a tocar. Apertei os olhos, a melodia entrava na minha cabeça e a cada tragada, eu sentia uma vontade imensa de chorar. Chorar pelo homem da praça. Chorar por mim mesma.

Abri os olhos para olhar pra cima, me conter, eu odiava chorar. Mas mais que o ódio que eu tinha sobre o ato, eu não conseguia chorar, mesmo quando eu queria, mesmo quando eu precisava, eu simplesmente não conseguia. Tirei os fones, às vezes até a música conseguia me sufocar. Ainda conseguia ouvir a melodia vazando para fora dos fones e se misturando com o som ambiente da praça. Acendi outro cigarro com a ponta do que estava fumando anteriormente, tragando tão forte, como se não estivesse apenas tragando o cigarro, mas estivesse assim sugando também as minhas lágrimas invisíveis para dentro.

“Eu já tive esse costume.” Disse a voz vaga, trêmula e rouca ao meu lado. Eu tossi ao engolir a fumaça da tragada no susto, quando olhei para o lado e ali estava ele, o senhor da praça. Ele não pareceu se alarmar com o meu estado de choque, apenas continuou olhando para frente, sereno. “Maus hábitos. A gente se obriga a perde-los cedo ou tarde.”

Eu não pude dizer nada.

“Eu costumava vir aqui quando era mais jovem, sim.” Ele começou e, por mais insano que pareça, como se estivesse respondendo a todas as perguntas que fiz a mim mesma na noite anterior. Mas era loucura pensar sequer por um momento que aquilo era possível. Podia ser que eu estivesse sonhando, talvez. “Sentava aqui, nesse mesmo lugar e escrevia meus poemas, às vezes trazia comigo meu caderno de desenhos, gostava de rabiscar, esboços dessas árvores, é uma pena que seja a senhorita tão jovem, no meu tempo essa praça era repleta de árvores e flores, dava gosto ficar aqui por horas e horas. Perfeito para um romance, ao menos para um poeta tão singelo quanto eu era na minha juventude.” Eu estava boquiaberta, o álbum do concerto de Vivaldi estava, aparentemente, no repeat e eu apenas podia ouvir trechos da melodia como se ela se encaixasse à conversa feito trilha sonora para o monólogo daquele senhor. E por mais rude que pudesse parecer, eu não conseguia fazer mais nada além de ouvir. “Exatamente onde está sentada foi onde conheci Carmen. Tão bela quanto as palavras de um poeta jamais seriam capazes de descrever. Sinto que tenham derrubado a árvore onde selamos nosso amor, cravado no tronco para o que eu acreditava que seria uma eternidade. No meu tempo era comum acreditar em tal coisa.”

“Eu… Eu sinto muito.” Meu vocabulário poderia ser comparado ao de uma criança de cinco anos de idade naquele momento, tal qual a minha capacidade de reagir.

“A minha presença a incomoda.” Ele disse de uma forma tão doce que naquele momento ele sequer precisaria ter me dito que havia sido um poeta. Apenas um poeta verdadeiro conhece a intensidade de cada palavra. E apenas um poeta sabe usá-las de maneira tão doce.

“No início, eu gostava de ficar sozinha.” Que coisa rude pra se dizer! Mas algo parecia não estar no meu controle, as palavras simplesmente saíram. O senhor sorriu.

“Minha bela jovem, como pode dizer tal coisa? Não há no mundo alguém que goste de ficar sozinho.” Ele esfregou as mãos nos joelhos e nunca, jamais olhava para mim quando falava. “Você me lembra muito a Carmen, minha bela jovem. Seus olhos, a maneira como divide os cabelos, a forma como segura o cigarro entre os dedos. Carmen jamais teria me dado a chance de falar com ela, eu sou poeta, eu crio situações. Não houve árvore, nem amor selado. Eu nunca fui capaz de olhar para ela duas vezes e chamar-lhe a atenção. Nunca soube seu verdadeiro nome e sequer como era o seu tom de voz. Apenas decidi que a chamaria de Carmen. Carmen, meu grande amor jamais revelado. Minha utopia.” O vi tirar um lenço do bolso do paletó cinza que não combinava com a calça cáqui que ele usava, talvez esse seja também um dos motivos que, no início, me faziam desconfiar do homem que se sentava todos os dias ao meu lado em uma praça vazia. “Você sabe o que quer dizer uma utopia, Alexia?”

Senti meu ar abandonar de uma só vez os meus pulmões, meus olhos se expandiram a um ponto que eu achei que saltaram literalmente às órbitas. Ele me chamou pelo nome, eu nunca lhe disse o meu nome. O medo, aquele mesmo medo começou a atormentar novamente a minha cabeça, eu talvez tivesse me enganado, talvez aquele homem fosse realmente perigoso e eu me deixei enganar pelo idealismo da fragilidade idosa. Talvez eu estivesse mesmo em perigo. Queria sair correndo dali, mas eu parecia pregada ao banco; queria perguntar como diabos ele sabia o meu nome, mas o que eu lhe dei foi uma resposta que continuava o assunto.

“Um sonho ideal, perfeito.”

“Carmen foi a utopia da minha vida. Eu jamais falei com ela, mas ela existia. Todos os dias, como disse, ela se sentava nesse mesmo lugar onde você está e eu me sentava aqui, sonhando com ela, que estava tão próxima de mim e ao mesmo tempo, absurdamente distante. Me apaixonei por Carmen como nunca jamais me apaixonei por outra pessoa. Por muito tempo ensaiei o que poderia lhe dizer, busquei coragem na essência das minhas poesias. Cheguei aqui, me sentei, ainda fumava naquela época. E esperei. Naquele dia, Carmen não apareceu. E no outro, também não. Assim foram os dias, durante muito tempo tinha a esperança de que ela aparecesse novamente, fui paciente, mas ela não apareceu. Não sei o que aconteceu, nunca soube. Junto com Carmen, a inspiração para os meus poemas foi embora. Assim como minha vontade de desenhar, até mesmo a vontade de fumar não fazia mais sentido, pois não esperava mais que Carmen viesse eventualmente me pedir fogo para acender seu próprio cigarro. Carmen nunca fez ideia de que fez parte da minha vida, da minha essência e também de várias de minhas mortes. O que fui e o que sou, devo à Carmen. O que eu poderia ter sido, poderia ter sido com ela. E ela não sabe e nunca vai saber. Não sei se mudou de cidade, não sei se casou com alguém , não sei se apenas enjoou da praça. Talvez ela fosse diferente de mim, talvez ela conseguisse enjoar de um lugar facilmente, talvez não fosse do tipo que cria raízes, talvez sequer gostasse de criar laços. A minha Carmen eu sei como se porta, do que gosta, como vive. Mas essa Carmen é uma utopia baseada em uma Carmen que sequer é Carmen.”

“Como você sabe o meu nome?” Disse de repente, mesmo tendo ouvido tudo que ele disse, mesmo sabendo o quão rude essa pergunta iria soar. Ele me olhou pela primeira vez, não parecia aborrecido pelo fato de eu não ter dito uma palavra sequer sobre sua história, sobre a Carmen, sobre o medo que ele teve, sobre tudo que ele perdeu, sobre aquilo que ele perdeu sem nem chegar a ter. Senti uma gota de água pingar exatamente na ponta do meu nariz, olhei para o céu apenas para me certificar do óbvio, estava começando a chover. Foi um tempo muito curto, o momento em que eu olhei pra cima e quando olhei para o lado de novo, não havia mais senhor algum no banco.

Nunca soube seu nome, voltei diversas vezes na praça depois daquele dia, mas jamais o encontrei lá de novo. Eu ia pra escola, voltava, a minha vida continuava quase da mesma forma de antes. Mas As Quatro Estações de Vivaldi jamais soaram da mesma forma para mim outra vez. Elas tinham o rosto daquele senhor. Do Senhor da Praça. Não sei e nunca vou saber o motivo de ter ouvido a História de Carmen naquela tarde. Não sei sequer se compreendi o verdadeiro significado das palavras daquele poeta. Não sabia como ele se deslocou tão rápido pra longe. Poderia jurar que simplesmente desapareceu.

Perdida em meus pensamentos, a música nos fones muito alta, não estava conectada ao mundo, apenas estava andando pelo corredor da escola, como sempre fiz. Nada poderia tirar a minha concentração da música. Nada exceto a única menina que eu já ousei deixar o meu olhar cruzar naquela escola. Eu não sabia nada sobre ela, mas sabia que sempre que a encontrava em algum corredor, precisava olhar pra ela nem que fosse por alguns instantes. A beleza dela, eu poderia dizer, que era quase utópica. Como a palavra que o Senhor Poeta da Praça gostava muito de usar. Não sei o que deu em mim, talvez a sonoridade romântica de Ravel tenha desconectado alguma coisa no meu cérebro, ou talvez eu nem tenha percebido quando meus pés me colocaram de frente a menina que eu apreciava como alguém que aprecia a Vênus de Milo por horas e horas sem cansar. Talvez o destino tenha sido um pouco generoso, ao invés do perfeito sacana que costuma ser, porque ela estava sozinha. Eu estava na frente dela, com a certeza de que meus óculos estavam tortos e que eu sorria feito uma idiota. Mas quando ela sorriu de volta, foi a imagem do Senhor que me veio à mente, por uns dois segundos. Dois segundos de coragem.

“Como você se chama?” Disse talvez um tanto agitada. Precisava ser depressa ou nunca seria. Mas eu disse.

Ela sorriu mais uma vez. Me olhou nos olhos, com aqueles olhos azuis enormes. Se eu fosse poeta, com certeza escreveria sobre aqueles olhos diversas e diversas vezes sem cansar. Poderia passar o dia todo em silêncio mantendo aquela cumplicidade de olhares. Mas ela quebrou o silêncio, com uma voz tão doce quanto uma melodia de Beethoven.

“Carmen.”

Meu coração parou por um segundo.
O Senhor Poeta da Praça se chamava Coragem.

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