quinta-feira, 20 de junho de 2013

Tortura


Sinto as garras fortes ao redor do meu pescoço, a pressão é tão forte que é muito difícil respirar. Quanto mais eu tento, mais difícil parece ser. Começo a desejar que me mate logo, porque o desespero é insuportável, então gentilmente as garras se afrouxam, permitem que eu respire, mas não me livram. O que elas gostam mesmo é de me torturar, quando estou novamente respirando bem, quando o alivio é tão grande pra me preencher por completo, novamente as suas garras se apertam ao redor do meu pescoço, novamente sinto como se estivesse prestes a morrer. Essas garras são afiadas, mas percebo que quem as possui toma o extremo cuidado de não me ferir de maneira fatal. Não posso morrer e muito menos descansar, a brincadeira é outra, a graça também deve ser outra. Passo novamente pela difícil situação de não conseguir respirar direito, quero desistir, mas quando estou prestes a me entregar, sinto a sua gentileza distorcida novamente, até acredito que a criatura que ali me tortura, no fundo se importa comigo. Ela na verdade não se importa, mas eu não posso morrer. Não duvido que eu vá morrer pelas suas garras, pelo veneno das suas unhas, mas percebo que ela toma todo o cuidado para que isso não aconteça. Acho que ela deve ser um pouco sádica. Com o tempo, quando ela demora muito para enganchar-se em meu pescoço novamente, começo até a sentir falta de dificuldade de respirar, sinto falta de lutar contra ela e me debater. Às vezes acho que nos momentos em que ela me deixa livre, sou tão livre que posso fugir, mas não tem jeito, ela sempre volta, não me deixa ficar distante o suficiente para que eu me perca das suas vistas. Não sei nem se ela me enxerga, se realmente me vê como eu me vejo. A única coisa que eu sei é que o seu maior prazer é me ver sem ar, lutando pra viver. Ela gosta de ir longe, jogar perigosamente, já quase morri em suas garras diversas vezes, mas aí a minha criatura mostra a sua compaixão torta por mim e me solta, se ela tivesse olhos, tenho certeza de que poderia capturar neles toda a sua confusão. Mas a vejo pela alma, a minha criatura não sabe o que quer, ela tem vontade de me matar, mas acho que alguma coisa a impede. Não sei o que é. Acho que um dia desses ela ainda arranja o que precisa pra enfiar-me as suas unhas e envenenar-me de uma vez, posso até imaginá-la a cortar-me as veias. Um dia ela ainda consegue. Eu vejo no fundo da sua alma confusa, sei que um dia desses minha criatura vai cansar de me torturar e de brincar comigo e aí então ela me mata. Eu posso ver isso lá longe, nos olhos que eu não vejo.
Mas por enquanto ela se diverte me torturando aos poucos.

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