quinta-feira, 20 de junho de 2013

Bulimia Sentimental

"Quod me nutrit, me destruit."
Há esse lugar onde ninguém tem nome ou sobrenome. Endereço então, nem pensar. Falsas identidades, falsas histórias, falsos diplomas. Falsos discursos. Falsos interesses. O que as pessoas têm ali é orgulho em demasia, um potente desejo de autodestruição e mentes depravadas. Uma fome que parece nunca saciar. Porém aquilo que alimenta, é exatamente aquilo que destrói. Fartam-se estes pobres diabos de beijos sem paixão, bebidas doces para equilibrar, cigarros que apodrecem os pulmões. Mas se apodrecerem ou não, tanto faz. Se a bebida no final fizer mal ou não, tanto faz. Se o beijo apaixonar então, que se foda. ‘Que me foda’, é o que pensam. É o que gritam ao explodirem vulneráveis em seu ápice vulgar. Vomitam em banheiros fétidos em busca de um ideal obsceno. Os saltos se quebram, as maquiagens borram e o rosto se desfigura. Quanto mais degradante for a imagem refletida no espelho, melhor se vê o retrato escarrado daquelas almas vistas de dentro. Tudo que a carne reproduz é apenas um reflexo grotesco do que acontece lá dentro. É exatamente desse modo que se apresentam. Podres, sem perspectiva, sem glamour. Eis uma geração que não se importa. A geração que não ama, a geração que não come, não sente, não faz. Eis a geração mais faminta e a geração que menos se alimenta. Eis a primeira geração a desenvolver uma bulimia sentimental. Vomitam os seus sentimentos antes mesmo de digeri-los. Sentem repulsa pelo que lhes mata a fome. ‘Matar a fome’ pois, em termo, significa suicidar-se. E suicidam mesmo suas almas, diversas vezes. Aproveitam-se da imortalidade do espírito e o maltratam. Depois descontam a raiva na carne, que é fraca, que perece. E sentem o prazer obsceno de vomitar os seus sentimentos ao invés de engoli-los. Não querem um coração gordo. 
Há esse lugar. Esse lugar chamado: todo lugar.

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