Depois de todo esse desleixo, vim aqui dar um parecer pra quem quer que ainda acompanhe esse blog. Eu lembro que quando criei isso aqui, na primeira postagem que fiz deixei clara a possibilidade que eu tinha de acabar abandonando ou não seguindo minhas próprias expectativas. E era de se esperar que eu ficasse muito tempo sem postar ou que eu não falasse tanto quanto gostaria sobre minhas coisas, sobre a minha vida, enfim.
Eu sou uma péssima blogueira, dificilmente eu conseguiria fazer uma vida em cima disso como vejo essas garotas por aí, que falam sobre moda, sobre fotografia, sobre as vidas delas — mil vezes mais interessantes do que a minha, devo dizer — e filmes, livros e todas essas coisas. O que me leva logo a pensar que, certamente, eu fiz foi bem em desistir da ideia de fazer Jornalismo quando ainda queria muito isso, porque provavelmente eu estaria frustrada. Não que eu não esteja, ainda, por não estar fazendo absolutamente nada... O que me leva ao próximo ponto: já é Novembro! Faltam agora só exatos dois meses pro ano acabar! E parece que eu nem vi o tempo passando.
Esse é um dos clichês dos quais eu sou bem adepta, o clichê de não ver o tempo passar e estar sempre dizendo, "Oh, já passou tudo isso? Eu nem percebi!". A verdade é que eu acho que perco mais tempo pensando ou tentando planejar as coisas que eu quero fazer e isso me faz perder o tempo que eu deveria usar para fazer essas tais coisas. Eu deveria estudar, mas passo o tempo todo planejando sobre isso. Eu deveria realmente largar o computador, mas passo o dia todo apenas planejando assistir qualquer coisa. Eu não tenho disciplina alguma e isso é algo que eu preciso e muito. E preciso parar de deixar tudo pra depois, depois e depois. Um dia eu acho que vou acordar e me encontrar em uma cama de hospital com oitenta e nove anos de idade, exatamente do mesmo jeito que acordo todos os dias e vou pensar: mas já? E no dia seguinte eu não vou mais acordar e não vou nem perceber que eu morri e que minha vida não valeu de nada.
Assim como falar sobre essas coisas, eu perdi as contas de quantas vezes e em quantos blogs, asks e milhares de lugares eu já disse que precisava parar de desperdiçar o meu tempo, o que chega até ser ironia, pois ao começar a falar sobre isso eu já estou perdendo tempo. Mas viver não é gastar eternamente o nosso tempo seja lá com o que for?
Acho que eu nunca vou saber... E quando eu menos perceber, já vai ser tarde.
~ • ~
"Yeah, I’m a genius all right. You know what I’m a genius at? Wasting my own time. That’s what I’m a genius at. And do you know what wasting your own time means? It means killing yourself. Literally. If a young musician puts a gun in his mouth and blows out his brain, everyone cries about how he cut his life short. But you know what? You’re stealing just as much time from yourself by indulging in weird urges. Don't waste time. Time wastes you."
Eternidade é só uma ilusão de quem sonha muito. É só mais um sonho, é só mais uma utopia. Eternidade é uma idealização, mas não existe, nunca pode ser provada. Nós, eu sei, nós não seremos eternos, por mais que eu queira acreditar que nossas almas são conectadas por essa força que se pode explicar. Eu não sei se agora, não sei se daqui mais cinco anos, mas eu sei que você vai embora, cedo ou tarde, talvez bem tarde, talvez mais cedo do que eu prevejo, mas sei que você vai. Eternidade é só uma palavra pra enfeitar o amor, é só um artifício. Eu sei que você não vai ficar aqui por muito tempo, mais. Eu sinto isso mais forte a cada dia que passa, você logo vai esquecer aquilo tudo que nós prometemos. Você diz que não, mas eu sei que você pensa, no fundo você pensa em ir, no fundo você pensa em se libertar, bater as suas asas, voar pra bem longe. Eu quero apenas poder fechar os meus olhos para sempre quando você finalmente voar pra longe de mim definitivamente. O ciclo talvez acabe, eu sei, quando eu acabar também. Eu quero o fim, se for pra arrastar os meus dias sem você. E eu sei que uma hora dessas você vai bater as asas e ir sem nem se despedir. Eternidade é um pássaro sem asas, eternidade não existe.
Às vezes eu paro e fico apenas ouvindo a minha respiração. O silêncio ao redor, cortado apenas por sons ambientes. Minha respiração pesada, cansada, como se eu carregasse uma tonelada em cada braço dia após dia. Não carrego esse peso todo, na verdade, são raros os dias em que eu consigo sair de casa. Mas minha alma carrega talvez mais peso que isso. Talvez o peso desses anos que carrego comigo e talvez ainda o peso de todos os outros corpos e tempos em que esteve. Minha alma é marcada por feridas que eu conheço e por outras que não entendo porque as tenho. Sofro por decepções que ainda não passei, sofro por lugares que sequer conheço, mas sei que sofro. Eu sofro por 20 anos. E eu sofro por mais um milhão de anos. Carrego todos esses sofrimentos nas minhas costas. Eles refletem nos meus olhos, na minha respiração, na forma como me sinto perdida o tempo todo. Perdida no tempo, no mundo. Perdida em qualquer lugar. E não consigo achar o lugar que eu perdi nesses anos ou nos outros anos atrás, aqueles que eu sequer lembro mais. O que eu carrego, ninguém mais sabe. Eu não deveria lembrar, não deveria saber. Mas de alguma forma, eu sei. Eu sei que eu estou sofrendo por um peso muito maior do que o peso dos meus problemas superficiais. Eu sei que eu estou sofrendo por algo que eu perdi há um milhão de anos ou algum lugar ou mesmo alguém. Às vezes esse peso desaparece. Raramente, não dura nem cinco minutos. Talvez seja um tipo de sinal, talvez eu já tenha conseguido me aproximar da minha redenção. Mas eu não a alcanço, eu ainda me sinto cansada, pesada demais pra esse corpo. Preciso encontrar o caminho de volta pra casa, mas sequer sei onde fica a minha casa. Eu não deveria lembrar que eu não sou apenas isso, não deveria nem saber que eu já fui algo mais. Mas de alguma forma, eu sei que eu não pertenço e que eu nunca vou pertencer. A não ser que eu encontre aquilo que falta. Quem sabe eu dou sorte. Quem sabe só na próxima vida.
Eu digo para mim mesma, mas em silêncio, sabendo que mesmo que eu fale em voz alta ninguém ali vai me ouvir. Porque ninguém está interessado ou talvez porque ninguém realmente seja capaz de parar e ouvir realmente. Mesmo os que ouvem, não ouvem porra nenhuma.
O canudo de cinquenta dólares preso entre os meus dedos. Esse é o único dinheiro que eu tenho, mas sei que até isso aqui acabar, não vou nem saber onde eu enfiei e vou voltar pra casa andando como sempre. Seguro firme, no entanto, pois eu sei o que eu estou fazendo. Ou eu sabia. O indicador trancando a minha narina, a adrenalina feroz invadindo o meu nariz. Invadindo o meu corpo. Me completando, me abraçando. Repetir o ato? É claro, nada é mais simples. Eu sabia exatamente o que eu estava fazendo. Não sabia? Não sabia… Ah, sabia. Sabia sim. Ah, eu sei sim… Eu sei o que eu estou fazendo. Eu estou completamente bem.
Sinto toda a euforia, meu corpo está vibrando. Se quero dançar? Talvez eu queira. Talvez eu queira transar também. Não faz mesmo muita diferença, se eu for dançar algum otário vai dar um jeito de passar as mãos em mim e eu nem vou perceber. E todas as pessoas aqui possuem o seu rosto, mas você não está aqui. Você está longe.
Foda-se. Dê-me um pouco mais.
É meu cérebro, é minha mente, juro que não sou eu! O canudo não está mais tão firme entre os meus dedos, mas acredito que seja o suficiente para continuar. Enquanto eu ainda souber que ele está ali, posso pensar em ir embora e acabar com essa ideia idiota. Eu não sei porque eu estou tremendo tanto, não sei porque o meu nariz arde desse jeito, não costumava ser assim. Parece que eu levei um golpe certeiro bem no meio das fuças. Sangue? Que sangue? Talvez esse seja o meu sangue. Sinto escorrer pelo meu nariz, sei que deveria me preocupar, mas e daí? É, este é mesmo o meu sangue.
Venha aqui, me dê um pouco mais. Vamos acabar logo com isso.
Acho que agora realmente quero transar, mas tem que ser com você. Só que você não está. E você queria estar. Você e só você deveria estar aqui pra me dizer que já chega, pra me levar pra casa. Pra cair na minha cama, nos meus encantos. Mas você não está, então que diabos? Vamos, vamos, me dê um pouco mais e por favor, acenda o meu cigarro.
Qualquer um aqui tem o seu rosto depois de tudo que eu enfiei pela garganta e também pelo nariz. De qualquer forma, vou transar com você essa noite. Vou amar você essa noite e todas as outras noites da minha vida. Você nunca esteve aqui, mas está aqui o tempo todo.
Me segura no teu pensamento, eu não quero que você saiba que hoje o sangramento durou mais que da outra vez. Não quero que você saiba que eu tô fazendo merda, sem nem saber porque eu tô fazendo. Eu sabia o que era, eu só preciso me lembrar. Que porra eu tô fazendo? Ah, eu costumava saber… Eu costumava entender.
O que diabos acontece? Como eu vim parar aqui?
O silêncio é minha testemunha, meu confidente, meu melhor amigo. Melhor não tentar outra vez, talvez beber um pouco mais, mas essa merda não vai adiantar. Isso não vai passar. Eu tô é ficando louca, tão louca que nem sei mais onde eu estou. Quem é você? Onde você está? Vejo o seu rosto em todas as pessoas que estão aqui, mas você não é nenhuma delas. Tudo que eu queria era que você viesse me buscar, acho que não estou me sentindo muito bem. Voltei a sangrar, mas acho que por dentro. Eu sempre estou sangrando por dentro.
Foda-se. Quero um pouco mais. Quero sentir o que não sou capaz.
Penso tudo, penso tanto. Mas não falo nada. Sequer tento. Mas aqui ninguém vai ouvir. Todo mundo quer falar, no entanto. Essas pessoas só servem para sustentar o seu rosto, pois olho pra elas e todas elas aqui se parecem com você. Já nem sei mais o quanto eu bebi e o quanto eu cheirei. Eu tô fodida, eu sei que eu tô. Eu nasci pra ser assim, eu nasci pra viver assim. E se eu não posso ter você, então deixa eu apenas me foder. Deixa apenas eu te ver em todo o rosto que não é seu. Deixa eu continuar com essa ilusão de que você está em todos os lugares onde eu olho. Quem sabe eu acerto, quem sabe um deles seja você de verdade. Quem sabe você veio me buscar.
Não quero soar patético e menos ainda quero soar como um cachorro carente, implorando por um pouco de atenção. Eu não sou nada disso, eu não preciso de nada disso. Mas quando eu desliguei o telefone e vim pra sala, eu queria que você tivesse olhado para mim e percebido que eu precisava de um abraço seu. Eu não quero que você leia nos meus olhos tudo que eu preciso, não como eu faço, você sabe que eu sou louco. Eu sei que eu poderia ter pedido, mas eu não queria pedir. Eu não peço, você sabe disso. O meu orgulho é bastante grande e ainda tenho que prezar o que eu chamo de masculinidade. Não que eu já não tenha mandado isso pro inferno quando decidi que preferia foder garotos, mas mesmo assim eu não me permito ser tão frágil, nunca me permito me mostrar tão vulnerável diante de você e mais ainda por causa de um motivo tão banal. Eu só estava chateado e queria que você percebesse, mas também sei que você teve os seus motivos para não. A coisa que eu esqueço e que talvez você também esqueça de checar, de quando em quando, é que eu também sou humano, eu sinto as coisas exatamente como você as sente. Se você me cortar, eu também vou sangrar e vai doer, exatamente da mesma forma. Não importa o que eu deixe transparecer em meu rosto, não importa o modo como eu externizo a minha dor, vai doer igual, vai sangrar igual. E mesmo assim, eu não sou capaz de pedir.
Mas gostaria que você fosse capaz de ver. Queria que você tivesse notado que esse cara enorme na sua frente também tem seus momentos de fraqueza. Às vezes eu posso querer um carinho, sem pedir. E veja bem, às vezes as coisas conseguem me atingir. Na verdade, elas me atingem o tempo todo, porém eu raramente gostaria que você notasse que tudo que eu gostaria era que você me puxasse pela mão e apenas deitasse comigo na cama ou viesse me dar um abraço, sem que eu peça por isso.
Mas tudo bem, eu vou me colocar na cama, apenas. Vou virar pro outro lado, vou dormir. Não estranha se eu não te abraçar, amanhã eu já não vou mais estar vulnerável, amanhã eu já não vou mais precisar pedir. E você nem vai perceber. Amanhã vai estar tudo bem.
Amanhã já passou.
Sempre o mundo e essa puta falta de interesse. Sempre essa compaixão barata, emprestada. Forçada. Sempre tudo aquilo que eu não preciso. Sempre as ordens insensatas, sempre os maiores esmagando aqueles que são bem pequenos. Sempre os maiores dobrando de tamanho. Os maiores sempre se tornando gigantes. Gigantes filhos de uma puta. Putas. Todas elas são putas. Submissas e pecadoras. Vadias nojentas colocando porcos em fila para o abate. Alguns sobem a ladeira da nobreza, mas outros escorregam aos tropeços pelos barrancos da falta de dignidade. São sujos e estúpidos. Roubam, matam, estupram. Fazem com as mulheres o que desejariam fazer com as putas das suas mães. E com os nobres filhos de uma puta. E sempre tem desculpas. As mais ridículas, as mais infames. E sempre tem o sorriso rasgando os lábios, mostrando os dentes, zombando da nossa cara. Sempre tem ironia e sempre tem ódio. E sempre tem essa compaixão forçada e nojenta. Sempre tem tudo aquilo que eu não preciso, tudo aquilo que me é inútil. E tem um tempo exagerado, quase desnecessário para se observar esse lugar podre. Tem cheiro de merda, mas disfarçam tudo com perfumes azedos e baratos. Esse mundo é um lixo, o nosso azar é nascer. E o castigo é não morrer.
O amor pode tomar a forma que for mais conveniente, pois ele é mutável, se camufla e às vezes a gente nem percebe, outras vezes se expande bem na nossa cara, fica enorme só pra gente ver, tem as formas mais belas, as formas que mais agradam os nossos olhos. O amor toma conta de todas as formas do mundo deixando-as mais bonitas.
Me sinto absolutamente relapsa quando me proponho a fazer uma coisa e acabo não cumprindo com as minhas próprias expectativas. Escrever no blog é uma dessas coisas, pois nem sempre eu tenho o que dizer ou estou inspirada o suficiente para falar sobre qualquer coisa, mesmo que sejam filmes e coisas que eu amo.
Mas, mais que isso, é como se eu estivesse faltando com um compromisso importante, o que é pura besteira, já que o blog em si é apenas mais uma forma de me entreter. E eu tenho achado tudo que eu faço inútil ultimamente. A minha existência em si é de uma inutilidade infinita. Sem emprego, sem inspiração pra criar nada, sem vontade ou possibilidade de sair de casa. A gente acaba se anulando no mundo e é desse jeito que eu estou me sentindo outra vez, nula, sem propósito.
Nessas últimas semanas recuperei um contato antigo com uma pessoa e isso até me faz bem, por certo tempo. Talvez seja esse também um motivo importante de eu não conseguir escrever bem, pois só escrevo bem quando estou triste ou incomodada com algo. Mas essa é uma daquelas sensações que não duram, essa pessoa vem quando bem entende, também vai embora quando bem entende. Hoje eu já sei como as coisas funcionam com ela, quando ela vem, fico apenas esperando a hora em que ela vai embora novamente. Não é porto-seguro, uma vez que não é de forma alguma seguro. É apenas um lapso de felicidade momentânea, uma estação que não dura muito tempo.
E provavelmente seja nessa semana que está quase chegando ao fim que a sensação esteja acabando. Também pode ser como uma droga de efeito prolongado, que mesmo assim tem um efeito finito, algo que acaba e deixa tudo pior quando acaba. Tudo que eu tenho sentido por esses últimos dias é esse maldito sufoco que eu às vezes sinto, sem saber de onde ele vem e sem saber quando ele vai embora. É um inferno que acontece dentro de mim, sem mais nem menos.
E aí tudo que eu faço parece idiota, ruim, tosco.
Cheguei a pensar que o motivo que tinha feito eu me sentir assim, tinha a ver com a série de acontecidos que tornaram essa semana diferente das outras, mas não foi, a confusão e o tumulto está dentro da minha cabeça e não para, fica ali me incomodando e esperando que eu enlouqueça pouco a pouco.
Eu saio por aí às vezes, falo com as pessoas e até resolvo os problemas delas e elas sequer percebem como eu me sinto. Meu pai é uma dessas pessoas, ele me liga todos os dias, conversa comigo e sempre diz que ainda bem que eu não me importo muito com as coisas, isso é quase como ouvir uma piada bem ruim, considerando que eu sou a pessoa que mais se importa com problemas que sequer são meus. Inclusive os problemas dele e os problemas das pessoas que me cercam.
O sufoco que eu sinto, às vezes pode não ser nem comigo, mas com a quantidade de lixo que as pessoas vão acumulando em cima de mim e que uma hora transborda, mas elas continuam ali, jogando mais e mais lixo. Meus problemas parecem pequenos aos olhos alheios, eu sou a pessoa que não se importa e que sempre está bem. Nesse ponto, eu até achava que fosse meio fraca, mas vejo que eu sou muito mais forte do que imaginava ser. Eu encaro as coisas de frente. Ou eu me escondo bem até tudo passar e eu me sentir segura pra sair novamente.
O problema é que eu já venho me escondendo faz um tempo e eu estou cansada. Tenho medo de que quando eu resolver sair lá fora eu tenha realmente perdido o senso de realidade, que eu esteja literalmente fora do toque dela e não saiba levar. Não tenho lidado bem com as minhas frustrações e ninguém sequer imagina o quanto isso tudo me incomoda, o quanto eu gostaria que as coisas fossem diferentes.
E eu até tento fazer com que elas mudem, mas não posso aceitar o lixo de todo mundo simplesmente porque as pessoas esperam que assim seja, não tem como. Então eu fico na minha e aí as pessoas começam a falar, querem se meter no que eu faço e no que eu não quero fazer, querem me ajudar, mas esperam que eu aceite tudo da forma como elas gostam e fazem. E eu não sou assim.
E isso tudo vai me sufocando, aos poucos.
Eu absorvo tudo que emana das pessoas ao meu redor, todos os seus problemas, os seus sentimentos ruins, eles grudam em mim e se mesclam aos meus próprios. Eu sou um receptor de maus sentimentos e talvez também seja um depósito de problemas gratuitos e recebo tantos que os meus próprios se perdem. Perco tanto tempo pensando em como posso ajudar as outras pessoas que não sobra tempo para pensar em cuidar de mim mesma.
Erro. Erro grande.
Mas o que eu tenho percebido ultimamente, também, é que eu ando de saco cheio. Simplesmente no mais chulo da expressão, estou de saco cheio das pessoas. De saco cheio dos problemas delas e de saco cheio das atitudes delas. E mais do que isso, estou de saco cheia de mim mesma, dos meus dramas interiores idiotas, da minha incapacidade de mudar a minha realidade e de tudo que eu gostaria de fazer e não posso. Estou apenas cansada, como há um bom tempo tenho estado, cansada de nada.
Poder assistir séries, ver filmes e ler livros talvez seja a única coisa que não deixa eu entrar numa depressão de verdade com o fato de que o que quer que eu faça, eu não consigo arrumar um emprego e nem dar um jeito na minha vida. Quando eu digo que as séries me salvaram, ninguém acredita, mas é verdade, escapar da realidade foi muito importante para mim, foi dessa forma que eu consegui me manter sã e forte. E é esse o único motivo de eu ainda não ter surtado de vez.
E como sempre, são as séries que logo no início eu me recuso totalmente a ver que acabam me surpreendendo e me cativando mais que qualquer coisa. Depois de muito me recomendarem a série Hannibal, eu resolvi ver. Aproveitei que a minha melhor amiga veio aqui pra casa e começamos a nossa maratona. Nós não saímos do quarto por mais ou menos dois dias e assistimos à toda a temporada, é isso que a gente faz quando encontramos uma série boa de verdade. E eu confesso que me apaixonei completamente pela história dessa.
Eu nunca fui muito interessada na história do Hannibal até então, confesso que só devo ter visto O Silêncio dos Inocentes e muito pelas coxas, ainda, pois não lembro de nadinha que se passa no filme, talvez seja até por isso que eu tenha achado a série tão incrivelmente maravilhosa, porque nada me comprometeu a não gostar ou me remeteu a fazer comparações. Mas posso dizer que, depois de ver a série, aí sim eu senti uma vontade grande de procurar todos os filmes e assistir e é isso que eu pretendo fazer logo, logo. É assim que a gente cria vícios, não é verdade? Pois bem, os meus se criam sempre dessa mesma forma.
Eu começo desprezando uma coisa, depois acabo me rendendo à essa coisa. No momento seguinte eu já estou completamente entregue à tal coisa em questão e totalmente obcecada com aquilo, querendo que todos entendam o motivo daquilo ser tão bom para mim, sinto vontade de berrar pro mundo todo o quanto eles precisam assistir tal coisa ou ler tal livro, mesmo sabendo que pouca gente vai me ouvir, mas é essa a minha vontade quando vejo algo que eu gosto de verdade. Provavelmente isso diga algo sobre a minha personalidade, às vezes tenho vontade de ir em algum analista para traçar o meu perfil, só por curiosidade.
Mas agora, como sempre acontece, eu devorei uma série maravilhosa em menos de uma semana e vou ter que esperar mais um ano ou o que equivale a uma eternidade até a próxima temporada. Vou ter que ficar roendo as unhas e criando teorias e remoendo toda a história de novo e de novo e de novo na minha cabeça. Nessas horas, eu penso que eu realmente deveria arrumar coisa melhor pra fazer.
Mas que se dane, não é verdade?
Eu garanto que quando eu estiver mais inspirada, farei uma postagem no formato das minhas reviews sobre a série com a minha nota e com uma percepção melhor sobre os personagens e sobre a história. Por hora, eu precisava simplesmente falar sobre isso e sobre o que as séries trouxeram para a minha vida. Certamente, o meu porto seguro, meu refúgio para todas as coisas ruins eu encontrei bem aqui, na ficção. E isso me faz bem.
A minha dica é bem óbvia, não é? Assistam Hannibal!
Se você chegar a ler isso, quero que saiba que estou muito feliz, porque pelo menos você não foi transformada em um Cyberman, ou em um Dalek e também não foi pega por nenhum Weeping Angel. Infelizmente, though, também é um sinal de que você não encontrou o Doctor, mas ainda tem tempo. Nessa altura você já deve ter aprendido isso...
Brincadeiras à parte, espero que você ainda ache graça em tudo isso, espero que ainda saiba desfrutar desses pequenos prazeres tão bobos que costumavam te fazer tão feliz. O que eu quero mesmo é que você saiba que eu estou genuinamente orgulhosa de você, independente do que tenha acontecido. Estou orgulhosa porque você foi forte e aguentou todas aquelas coisas que eu achava que um dia iriam ser o seu fim, você ainda está aí, provando para mim que eu estava completamente errada e isso me faz muito, muito feliz.
Muitas coisas devem ter mudado para você, eu presumo. Afinal, cinco anos é um tempo relativamente longo, não é verdade? Mas ao mesmo tempo, eles passam voando, num piscar de olhos. Talvez a essa altura você já esteja até formada, ou talvez você esteja ainda estudando. O que eu sei é que você conseguiu sair daquele mar de azar e você deve ter aprendido a nadar sozinha também para conseguir isso, assim como todas as outras coisas que você aprendeu por si e que eu nunca soube reconhecer. Eu aprecio o seu potencial, embora nunca tenha dito isso à você. Eu esperava que você soubesse que cada conquista sua e cada pequena realização eram para mim o maior motivo de orgulho.
Você merece que coisas boas aconteçam na sua vida, embora talvez ainda não acredite nisso, pois te conheço e sei que você tem essa dificuldade imensa em confiar no futuro, mas você é a maior prova de que as coisas mudam pra melhor, sim. Basta você acreditar nelas com força e ir atrás daquilo que deseja.
Eu queria evitar essa parte, mas acho que você merece as minhas sinceras desculpas. Por tudo de ruim que já lhe aconteceu, porque você sabe que tudo aquilo foi culpa minha. Queria me desculpar por ter feito tantas escolhas ruins, por ter sido tão inocente e ter te prejudicado tanto. Queria me desculpar por ter ouvido e guardado tanta coisa ruim. Queria me desculpar por ser tão infinitamente teimosa. Eu lhe peço as mais sinceras desculpas por tudo isso.
Eu estou feliz de verdade em ver você crescendo e peço que não pare e que tente não olhar tanto para trás, como você tem costume. O que passou, passou, menina. Tente olhar mais para a frente, o futuro não é tão assustador quanto parece. Saiba que para mim, você é brilhante e vai continuar sendo. Você sempre foi e no fundo, você sempre soube disso.
Espero que tenha finalmente encontrado seu lugar e, se ainda não encontrou, espero que não tenha desistido de procurá-lo.
E lembre-se:
"Eu te desejo não parar tão cedo, pois toda idade tem prazer e medo."
Inspiração. De quando em quando eu tenho bons insights, eles acontecem todos ao mesmo tempo e parecem um bombardeio de boas ideias. Mas de repente o bombardeio cessa e toda essa inspiração recua e parece difícil demais até mesmo responder perguntas simples em redes sociais de perguntas e respostas. E aí parece mais difícil ainda pensar em boas coisas para escrever em um blog.
Eu fico pensando de onde surgem as inspirações dos artistas, principalmente os escritores de sagas. J.K. Rowling, por exemplo, de onde ela tirou tanta inspiração para escrever sete livros? Escrever é difícil, é muito, muito difícil. Não é apenas juntar um monte de palavras e querer exigir que elas façam sentido a todos que leem. Escrever uma merda atrás da outra é bem simples.
Essa postagem mesmo, para mim, soa como aqueles episódios que só servem para encher linguiça, não causam impacto algum na série, nem na história da temporada e muito menos nas nossas vidas. São 40 minutos que a gente assiste por assistir, por amor à série, por amor aos personagens, mas nunca acrescentam em nada. Aí a gente esquece deles.
Eu sou muito boa em tagarelar incessantemente para preencher espaços e também preencher o tempo, posso divagar sobre uma lâmpada queimada ou sobre o gato que está miando lá fora há três dias e tornar essa divagação a maior reflexão filosófica que já foi vista. Mas é só um monte de besteira.
Divagações a parte ou talvez mais divagações sem sentido, eu queria apenas fazer uma reclamação amistosa: como eu supostamente deveria ter experiência em uma função quando sem essa experiência eu não posso trabalhar em tal função? E se eu não trabalhar nessa determinada função, não irei adquirir a tal experiência na dita cuja função, logo, não poderei assumir a vaga que exija tal experiência, pois não possuo tal experiência na função. Confuso? Nah. Ao que parece, é a lógica de qualquer empresa.
Esse ciclo vicioso, esse inferno que é a transição entre largar a (não tão) boa vida e se tornar alguém (não tão) notável.
A acidez com a qual estou falando hoje não é tão grande quando a minha frustração em relação ao mundo.
Às vezes parece que eu estou afundando novamente.
Eu só quero que a minha criatividade volte rápido e que eu possa falar sobre as coisas que interessam e não sobre toda essa besteirada de sentimentos presos, coisas que não interessam a ninguém, coisas tediosas. Eu estou com uma ideia há umas duas semanas e a não consigo colocar em palavras o que quero dizer. Talvez eu aproveite o final de semana fora para colocar um pouco as ideias no lugar, talvez eu precise apenas sair daqui um pouco.
É como se eu estivesse trancada aqui por anos.
A arte no filme Le fabuleux destin d'Amélie Poulain
Não é lá uma novidade muito grande o fato de que eu sou extremamente controversa diante de uma infinidade de coisas. Por exemplo, eu tenho muito medo de filmes de terror e não os assisto nem sob tortura, protesto, se for preciso, mas não os vejo sob circunstância alguma. Porém a maioria das minhas séries favoritas possuem contextos perturbadores e estão classificadas no gênero terror/horror/suspense. E parece que sempre sou atraída por esse tipo de assunto, tenho curiosidades e adoro falar sobre assuntos como espiritismo em conversas, gosto de contar e ouvir casos e essas tais lendas urbanas. Mas ao mesmo tempo eu odeio tudo isso, tenho pavor e não gosto de pensar nas hipóteses dessas coisas todas se provarem reais.
E outro dia eu acabei encontrando ao acaso uma artista ilustradora que possui esse estilo perturbador em todas suas obras e eu fiquei absolutamente fascinada. Fiquei fascinada pelo puro simbolismo de suas obras, fiquei fascinada pela forma simples e ao mesmo tempo complexa do seu trabalho. Não me aprofundei em pesquisas sobre ela, não até esse momento em que resolvi fazer essa postagem. Mas a coisa toda agrava a minha personalidade contraditória, pois os temas das obras dessa artista são realmente fortes, alguns até um pouco repulsivos, daqueles que nos causam as mais variadas sensações, as mais desconhecidas, as que dão medo, mas ao mesmo tempo fascinam. Eu sou apaixonada por qualquer coisa que brinque com o psicológico, então para mim, arte - nesse ponto, abstendo-se apenas na arte visual, tais como pinturas ou esculturas - é a forma mais metafórica de todas, é onde se pode examinar a maior parte de uma personalidade e todas as suas controvérsias, os seus medos, os seus desejos íntimos. Talvez seja por esse motivo, mais do que qualquer outro, que as mesmas coisas que me aterrorizam sejam, de certa forma, também as que mais chamam a minha atenção, pois gosto muito de desafiar a minha mente e seus limites.
Já não é de hoje que esse tipo de obra me atrai, porém até hoje nunca tinha visto nada que se comparasse ao trabalho dessa artista de que tanto falo. Meu pai há vários anos chegou em casa com um livro sobre o pintor Hieronymus Bosch e pra muita gente suas obras não são belas, mas eu tenho uma tendência a ver beleza no que chega a beirar o bizarro. Bosch é mais conhecido por destacar em suas obras atos de pecado e até mesmo representações do próprio inferno como pura carnificina, cenas tortuosas e muito sadismo. E essas imagens realmente chegam a perturbar a mente, utilizando o estilo fantástico e também o sombrio, ao mesmo tempo. Há abuso de cores concentrador apenas em certos pontos das obras, o que se torna deveras cansativo para os olhos e para o cérebro. Eu, particularmente, vejo estas obras com infinita admiração, por repassar um sentimento tão forte - ou vários deles. E arte para mim é isso, é repassar sentimentos. É bem mais fácil através da escrita, mas através da pintura, do desenho, das cores fortes e mesmo da ausência delas, isso não é nem perto do que é simples. Tocar a alma de uma pessoa no silêncio e brincar com seus sentidos, seus medos mais íntimos e causar esse desconforto prazeroso é muito mais difícil. Livros podem causar isso, mas o impacto é gradativo, como doses homeopáticas de uma tortura necessária, ao observar um desenho, uma pintura ou até mesmo uma escultura, o choque é quase fatal, a energia que é descarregada através do cérebro e que vai percorrendo todo o seu corpo é muito intensa, todos os níveis são elevados e não estão mais sob o seu controle, seus sentidos passam a pertencer ao autor da obra, estando ele morto ou vivo, pelo menos naquele um instante, e enquanto dura o efeito do choque é ele quem possui o controle total sobre a sua mente e sua alma. E é isso que me fascina sobre a arte, que me coloca em êxtase.
Detalhe central da tela O Jardim das Delícias de Bosch em 1504 Peço que reserve um pequeno tempo para clicar na imagem e apenas observar a obra detalhe por detalhe da obra. Tome isso como um desafio, permita-se entrar na obra e experienciar um pouco do sentimento de transe que tanto falo.
Bosch foi uma obsessão que eu criei quando mais nova, mas nunca tinha procurado nada semelhante. Devo confessar que nos meus anos de adolescência, a vontade era sempre maior do que o incentivo de fazer as coisas e a preguiça sempre me vencia, então eu acabava me acomodando à limitação de informações que recebia ao acaso, mas não procurava me aprofundar. Eu acho que não adianta mais lamentar sobre estes fatos, porque ninguém nunca quer saber sobre algo quando está fadado a estudar e ler sobre aquilo, mas de uma hora para outra o assunto se torna realmente interessante quando não é mais uma obrigação e sim por puro prazer de saber mais sobre determinada coisa. Eu costumava pensar que tinha perdido muito tempo, tempo esse que eu jamais iria conseguir recuperar, de fato, a gente não recupera o tempo, mas atualmente eu venho percebendo que mesmo com o tempo que perdemos, ainda assim sempre estamos em tempo de recuperar velhos hábitos que nos beneficiavam, de recuperar velhas dúvidas e ir atrás de suas respostas e sempre, sempre é o momento certo para adquirir mais conhecimento sobre o que for.
Aleksandra Waliszewska
E foi ao acaso mesmo que me deparei com essa artista que venho querendo falar sobre, que é a polonesa Aleksandra Waliszewska. Eu usei aqui algumas de suas obras para ilustrar alguns dos meus textos. O seu trabalho me remete à pesadelos e memórias ruins, mas também me remete à estados de espírito variados e nem sempre ruins, lugares imaginários e fora do alcance da realidade, lugares secretos da mente, esconderijos pessoais. É como se pudéssemos entrar em contato com nossos próprios medos, mas ao mesmo tempo enfrentá-los, como nos pesadelos, onde temos que lutar para viver. A minha contraditória pessoal faz com que eu me sinta hipnotizada por esse tipo de arte, é complexo, é pra ser visto com os olhos, porém sentido com a alma. É arte pra se perder dentro dela.
A artista em si, ao que me parece, não é uma pessoa muito pública, o que chega a ser irônico, pois ela revela a sua alma em seu íntimo mais obscuro, mas são pouquíssimas as informações encontradas sobre a moça, ela também não fala muito sobre suas obras, recusa-se a defini-las e esse é um dos pontos mais incríveis sobre ela, pois assim, ela nos permite expandir ainda mais a mente diante de suas criações. Eu quando observo uma obra, tenho lembranças de coisas que talvez não vivi, mas sei que são lembranças, tenho vários flashes, tenho também memórias que vivi e há muito já havia esquecido, sinto coisas que já senti antes e coisas que nem sabia que poderia sentir. Me sinto parte da obra, me coloco dentro dela. Quando você vê uma pintura e sabe o que ela significa, a sua viagem pela mesma se torna limitada, você sabe que aquilo que interpreta é pessoal, mas também sabe que não compartilha dos mesmos sentimentos que o autor da obra, você não se sente íntimo e a obra passa a ser apenas um agrado de leve aos olhos. Mas as obras cobertas de mistério agradam e também agridem, sentimos como se estivéssemos sendo despidos pelo artista e caminhamos nus dentro da sua criação, não temos certeza de que o que sentimentos talvez não tenha sua parcela de realidade. Nesse caso, tudo é possibilidade. Tudo é sim e não ao mesmo tempo.
Aleksandra Waliszewska é uma incógnita, mas ao mesmo tempo, é um livro aberto. Eu sempre pensei sobre artistas - nesse caso, agora, envolvendo a arte como um todo, pintores, escritores, escultores, atores, músicos - e por qual motivo eles são considerados ídolos. Quando eu era mais nova, via inspirações de vida em todos os meus artistas favoritos, porque gostava de suas músicas ou porque gostava de algum filme que faziam, mas essa é a parte superficial e sem valor, não é o que os define como pessoa, não é o individual de cada um deles. Não durou muito tempo para que eu começasse a me interessar pela história dos artistas e, logo, filtrar meus ídolos como indivíduos avulsos, pessoas como eu e não pessoas acima de mim. Um ídolo ou uma inspiração, da forma que eu vejo hoje, é aquela pessoa que você gostaria de passar um tempo conversando ou que gostaria de seguir os mesmos passos, são pessoas que conquistaram o seu lugar no mundo e oferecem algo que, ultimamente para mim, tem sido essencial buscar em qualquer fonte que me garanta isso: esperança de alcançar algo melhor. Ídolos são pessoas que você desejava ter o coração tão grande quanto, são pessoas que aprimoram a sua capacidade de sentir alguma coisa. Hoje tento focar as minhas frustrações no fato de que, com um pouco de esforço, posso sair de onde estou, posso mudar a minha história. E meus ídolos tem parte nisso, me mostrando que isso é possível. Mas mais do que isso, vejo eles pelo trabalho que fazem, o legado ao qual eles dedicam suas vidas, hoje prefiro dizer que sou muito mais inspirada pela arte produzida por alguém do que pela pessoa em si, salvas algumas exceções.
A arte tem um poder infinito sobre a minha persona. Quando estou a olhar para uma ilustração confusa, estou na verdade tentando me colocar ali dentro e fazer parte daquilo que vejo. Quando estou escrevendo, estou tentando me posicionar no mundo como alguém que compartilha algo que considera útil para si e que pode também ser útil para mais alguém. Hoje vejo que, se pelo menos uma pessoa apreciar o que eu faço e souber me reconhecer, eu já estou fazendo valer à pena os tapas que eu levo da vida. Se eu sou capaz de inspirar algo em alguém, é certo que vou tentar fazer isso. Quando escrevo minhas crônicas abstratas, estou deixando pra trás pedacinhos de mim mesma, derrubando-os pelo meu caminho. A arte está nos pequenos detalhes, é o impacto que ela causa tem proporções gigantes nas vidas de quem recebe a sua arte. É uma pena eu não saber pintar ou desenhar majestosamente, mas acredito que também estou deixando algo importante quando me expresso com as palavras. Toda arte é arte e merece ser apreciada.
― x ―
Sugiro que tire um tempo apenas para observar um pouco da obra da Aleksandra Waliszewska. Permita que sua imaginação tome lugar na obra, permita que seus sentimentos se misturem aos sentimentos contidos na imagem:
Os olhos dela, eu sei, sorriam pra mim mesmo sem saber. Talvez não seja verdade, talvez pertençam hoje a outra pessoa. Mas não, eu sei que aquele sorriso, aquele sorriso era meu. Aquele sorriso com os olhos, aquela esperança afundada, escondida onde só eu podia ver. Hoje ela exibe estes olhos sorridentes ao mundo, aos outros, ao seu alguém. Digo a você diretamente, minha querida, que antes de mais nada, peço que se lembre por apenas um segundo de quando estes seus bonitos olhos sorriam só pra mim.
Os olhos dela sorriam e logo, eram os lábios que estavam sorrindo também. A risada no telefone, a frase que escapulia sem perceber. O silêncio após o que não devia ter sido dito, a nossa compreensão. A voz que eu tanto gostava. Mas ainda cismo mesmo é com os olhos, os olhos dela, que sorriam para mim. E eu vi de novo esses olhos, como se estivessem esperando que eu os visse. Sorriam pra mim como sorriram outras vezes.
Pode ser que não seja verdade, pode ser - talvez seja - que eu esteja mesmo louca, mas digo o que vi e aqueles olhos estavam sorrindo secretamente para mim.
Sinto as garras fortes ao redor do meu pescoço, a pressão é tão forte que é muito difícil respirar. Quanto mais eu tento, mais difícil parece ser. Começo a desejar que me mate logo, porque o desespero é insuportável, então gentilmente as garras se afrouxam, permitem que eu respire, mas não me livram. O que elas gostam mesmo é de me torturar, quando estou novamente respirando bem, quando o alivio é tão grande pra me preencher por completo, novamente as suas garras se apertam ao redor do meu pescoço, novamente sinto como se estivesse prestes a morrer. Essas garras são afiadas, mas percebo que quem as possui toma o extremo cuidado de não me ferir de maneira fatal. Não posso morrer e muito menos descansar, a brincadeira é outra, a graça também deve ser outra. Passo novamente pela difícil situação de não conseguir respirar direito, quero desistir, mas quando estou prestes a me entregar, sinto a sua gentileza distorcida novamente, até acredito que a criatura que ali me tortura, no fundo se importa comigo. Ela na verdade não se importa, mas eu não posso morrer. Não duvido que eu vá morrer pelas suas garras, pelo veneno das suas unhas, mas percebo que ela toma todo o cuidado para que isso não aconteça. Acho que ela deve ser um pouco sádica. Com o tempo, quando ela demora muito para enganchar-se em meu pescoço novamente, começo até a sentir falta de dificuldade de respirar, sinto falta de lutar contra ela e me debater. Às vezes acho que nos momentos em que ela me deixa livre, sou tão livre que posso fugir, mas não tem jeito, ela sempre volta, não me deixa ficar distante o suficiente para que eu me perca das suas vistas. Não sei nem se ela me enxerga, se realmente me vê como eu me vejo. A única coisa que eu sei é que o seu maior prazer é me ver sem ar, lutando pra viver. Ela gosta de ir longe, jogar perigosamente, já quase morri em suas garras diversas vezes, mas aí a minha criatura mostra a sua compaixão torta por mim e me solta, se ela tivesse olhos, tenho certeza de que poderia capturar neles toda a sua confusão. Mas a vejo pela alma, a minha criatura não sabe o que quer, ela tem vontade de me matar, mas acho que alguma coisa a impede. Não sei o que é. Acho que um dia desses ela ainda arranja o que precisa pra enfiar-me as suas unhas e envenenar-me de uma vez, posso até imaginá-la a cortar-me as veias. Um dia ela ainda consegue. Eu vejo no fundo da sua alma confusa, sei que um dia desses minha criatura vai cansar de me torturar e de brincar comigo e aí então ela me mata. Eu posso ver isso lá longe, nos olhos que eu não vejo. Mas por enquanto ela se diverte me torturando aos poucos.