quinta-feira, 20 de junho de 2013

How soon is now?


Eu estava mais decidida que nunca dessa vez. Marquei aquele dia com um círculo vermelho em meu calendário, mas não fiz nota alguma, apenas o defini como “O Dia”. E eu não estava mais com medo, disse para mim mesma que estaria tudo bem, que daria tudo certo. Segui todo o meu roteiro, esperando ansiosamente o dia todo por aquilo. E devo admitir que em anos eu não passava um dia tão agradável, estava tudo pronto para a noite e eu não poderia estar mais feliz com tudo aquilo. Um sorriso me acompanhou pelo dia todo e não me abandonou por um só segundo que fosse. Terminei meu livro. Bebi chá. Comi, algo que eu não fazia há dias, mas dessa vez sem culpa. Saboreei o almoço e depois os cookies de chocolate. O que meu estômago permitia, que não era muita coisa, mas estava tão feliz que nem a necessidade de correr para o banheiro eu senti. Era um dia realmente feliz, aquele. O dia mais feliz da minha vida. Não deixei meu sorriso se abalar quando olhei para o meu celular, nem o levei comigo na caminhada que dei pelo parque, mas ele ainda estava lá em cima da cama quando voltei. Passei algum tempo apenas abraçando meu gatinho. Estava tudo tão perfeito que aquele nem parecia ser um dia da minha vida.

Quando chegou a noite, vesti minha roupa favorita. Não deixei meu sorriso se abalar mesmo quando percebi o resultado de tudo aquilo que havia comido, sabia que tinha exagerado muito, deveria ter abandonado aquele terceiro cookie, mas fui gulosa. Porém isso não importava, parei de me preocupar. Sorri novamente, bem grande. Me maquiei cautelosamente, rímel, lápis, delineador… Tudo perfeito. Conferi na minha bolsa, fiz questão de deixar o celular. E parti. O meu destino era um clube perto da minha casa onde estavam apresentando um cover da banda The Smiths. Talvez tenha sido essa uma das razões para eu ter marcado este dia como “O Dia”, pensei em talvez mudar este dia para “O Grande Dia”, mas nunca gostei de me vangloriar muito, então apenas “O Dia” estava bom. Eu não estava nervosa e talvez isso devesse me assustar, o fato de estar tão calma. Estava saindo de casa, mas estava calma, serena.

No momento que entrei no clube e olhei em volta precisei respirar fundo para meu sorriso não me abandonar ali e me deixar na mão. Todas aquelas pessoas, aquele barulho alto, aquele agito todo, eu olhava para a banda tocando e as pessoas em volta ignorando e discutindo seus próprios assuntos. Pensava em como eram capazes de ignorar a música e humilhar os artistas que lhes faziam um favor assim. Mas não queria começar ali mesmo a travar um de meus monólogos dentro da minha própria cabeça. Nada, absolutamente nada poderia estragar o meu dia perfeito. Eles agora tocavam Ask, isso me ajudou a continuar sorrindo, quando me aproximei do palco. Eu era uma das poucas pessoas que estavam ali tão próximas, mas estava realmente absorta naquela música.

Quando eles acabaram e anunciaram uma pausa, eu fui para o banheiro. Na fila uma menina se aproximou de mim sorrindo e dessa vez meu sorriso quase se quebrou de verdade, pois percebi que aquele sorriso era o mesmo sorriso que… Nada pode quebrar este momento, Alexia. Eu obedeci a minha consciência, sorri para a menina e ela me disse um “olá” charmoso, mas depois sumiu em uma das cabines. Uma outra liberou e eu entrei lá.

[…]

Quando eu voltei para a o clube, caminhei levemente até o bar e pedi uma cerveja, a moça que me serviu sorriu para mim também, eu fiquei lá até a banda retornar, foi o tempo de tomar umas duas cervejas. Meu corpo parecia flutuar no meio das pessoas, no momento em que me levantei e caminhei até o palco. Não tinha mais medo de nada, as pessoas passavam perto de mim e eu apenas sorria, dançava ao som das músicas que tocavam, como se eles tocassem para mim. O som em um dado momento foi ficando distante, foi quando meus olhos foram se fechando, mas eu ainda estava dançando e flutuando, abri meramente os olhos, o som estava muito longe e abafado, embora eu estivesse bem na frente da banda. Quando fechei os olhos novamente, eu vi apenas um sorriso e ela dançava comigo, acompanhava os meus passos. Foi suave e gracioso quando senti meu corpo caindo, como se um grande buraco negro - como o de Alice - tivesse se aberto. Eu estava girando, girando, girando e girando, conforme eu caía. E aquele sorriso me acompanhando, tudo que eu sempre sonhei. Um momento que jamais aconteceu, mas agora ali parecia tão real que eu não podia duvidar. Era ela quem estava tocando o meu rosto e de repente caindo comigo, mas nós não estávamos tristes e nem infelizes. Nós estávamos absolutamente bem.
A escuridão que me tomou, na verdade não era escuro de fato, durou apenas alguns segundos para depois se transformar em luz, uma luz constante e acolhedora, que parecia que jamais iria embora. Diferente do que contam, eu estava…

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