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segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Novos ares, novos lugares

Como todos bem sabem, se é que alguém ainda costuma acessar esse espaço, esse blog está há muito tempo desativado. No entanto, percebo que, às vezes, ainda obtenho alguma repercussão vinda dos textos que escrevi aqui, então nada mais justo que avisar o que tenho feito ou, no mínimo, onde me meti. Atualmente estou administrando outro blog junto com uma colega de faculdade. Temos um blog sobre Psicologia e gostaria de deixar o link disponível aqui para que vocês possam me achar, entrar em contato comigo e possam ler o que eu estou escrevendo atualmente. 


https://www.facebook.com/psiqueempalavras
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Além disso, também posso ser encontrada no Tumblr, onde ainda é possível me encontrar me aventurando com palavras que talvez não façam muito sentido. Se alguém desejar entrar em contato, falar sobre alguma coisa ou conversar comigo, podem também enviar um e-mail para: alessandra.cluves@gmail.com.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Poder da Arte

A arte no filme Le fabuleux destin d'Amélie Poulain

Não é lá uma novidade muito grande o fato de que eu sou extremamente controversa diante de uma infinidade de coisas. Por exemplo, eu tenho muito medo de filmes de terror e não os assisto nem sob tortura, protesto, se for preciso, mas não os vejo sob circunstância alguma. Porém a maioria das minhas séries favoritas possuem contextos perturbadores e estão classificadas no gênero terror/horror/suspense. E parece que sempre sou atraída por esse tipo de assunto, tenho curiosidades e adoro falar sobre assuntos como espiritismo em conversas, gosto de contar e ouvir casos e essas tais lendas urbanas. Mas ao mesmo tempo eu odeio tudo isso, tenho pavor e não gosto de pensar nas hipóteses dessas coisas todas se provarem reais.

E outro dia eu acabei encontrando ao acaso uma artista ilustradora que possui esse estilo perturbador em todas suas obras e eu fiquei absolutamente fascinada. Fiquei fascinada pelo puro simbolismo de suas obras, fiquei fascinada pela forma simples e ao mesmo tempo complexa do seu trabalho. Não me aprofundei em pesquisas sobre ela, não até esse momento em que resolvi fazer essa postagem. Mas a coisa toda agrava a minha personalidade contraditória, pois os temas das obras dessa artista são realmente fortes, alguns até um pouco repulsivos, daqueles que nos causam as mais variadas sensações, as mais desconhecidas, as que dão medo, mas ao mesmo tempo fascinam. Eu sou apaixonada por qualquer coisa que brinque com o psicológico, então para mim, arte - nesse ponto, abstendo-se apenas na arte visual, tais como pinturas ou esculturas - é a forma mais metafórica de todas, é onde se pode examinar a maior parte de uma personalidade e todas as suas controvérsias, os seus medos, os seus desejos íntimos. Talvez seja por esse motivo, mais do que qualquer outro, que as mesmas coisas que me aterrorizam sejam, de certa forma, também as que mais chamam a minha atenção, pois gosto muito de desafiar a minha mente e seus limites.

Já não é de hoje que esse tipo de obra me atrai, porém até hoje nunca tinha visto nada que se comparasse ao trabalho dessa artista de que tanto falo. Meu pai há vários anos chegou em casa com um livro sobre o pintor Hieronymus Bosch e pra muita gente suas obras não são belas, mas eu tenho uma tendência a ver beleza no que chega a beirar o bizarro. Bosch é mais conhecido por destacar em suas obras atos de pecado e até mesmo representações do próprio inferno como pura carnificina, cenas tortuosas e muito sadismo. E essas imagens realmente chegam a perturbar a mente, utilizando o estilo fantástico e também o sombrio, ao mesmo tempo. Há abuso de cores concentrador apenas em certos pontos das obras, o que se torna deveras cansativo para os olhos e para o cérebro. Eu, particularmente, vejo estas obras com infinita admiração, por repassar um sentimento tão forte - ou vários deles. E arte para mim é isso, é repassar sentimentos. É bem mais fácil através da escrita, mas através da pintura, do desenho, das cores fortes e mesmo da ausência delas, isso não é nem perto do que é simples. Tocar a alma de uma pessoa no silêncio e brincar com seus sentidos, seus medos mais íntimos e causar esse desconforto prazeroso é muito mais difícil. Livros podem causar isso, mas o impacto é gradativo, como doses homeopáticas de uma tortura necessária, ao observar um desenho, uma pintura ou até mesmo uma escultura, o choque é quase fatal, a energia que é descarregada através do cérebro e que vai percorrendo todo o seu corpo é muito intensa, todos os níveis são elevados e não estão mais sob o seu controle, seus sentidos passam a pertencer ao autor da obra, estando ele morto ou vivo, pelo menos naquele um instante, e enquanto dura o efeito do choque é ele quem possui o controle total sobre a sua mente e sua alma. E é isso que me fascina sobre a arte, que me coloca em êxtase.

Detalhe central da tela O Jardim das Delícias de Bosch em 1504
 
Peço que reserve um pequeno tempo para clicar na imagem e apenas observar a obra detalhe por detalhe da obra. Tome isso como um desafio, permita-se entrar na obra e experienciar um pouco do sentimento de transe que tanto falo.
Bosch foi uma obsessão que eu criei quando mais nova, mas nunca tinha procurado nada semelhante. Devo confessar que nos meus anos de adolescência, a vontade era sempre maior do que o incentivo de fazer as coisas e a preguiça sempre me vencia, então eu acabava me acomodando à limitação de informações que recebia ao acaso, mas não procurava me aprofundar. Eu acho que não adianta mais lamentar sobre estes fatos, porque ninguém nunca quer saber sobre algo quando está fadado a estudar e ler sobre aquilo, mas de uma hora para outra o assunto se torna realmente interessante quando não é mais uma obrigação e sim por puro prazer de saber mais sobre determinada coisa. Eu costumava pensar que tinha perdido muito tempo, tempo esse que eu jamais iria conseguir recuperar, de fato, a gente não recupera o tempo, mas atualmente eu venho percebendo que mesmo com o tempo que perdemos, ainda assim sempre estamos em tempo de recuperar velhos hábitos que nos beneficiavam, de recuperar velhas dúvidas e ir atrás de suas respostas e sempre, sempre é o momento certo para adquirir mais conhecimento sobre o que for.

Aleksandra Waliszewska
E foi ao acaso mesmo que me deparei com essa artista que venho querendo falar sobre, que é a polonesa Aleksandra Waliszewska. Eu usei aqui algumas de suas obras para ilustrar alguns dos meus textos. O seu trabalho me remete à pesadelos e memórias ruins, mas também me remete à estados de espírito variados e nem sempre ruins, lugares imaginários e fora do alcance da realidade, lugares secretos da mente, esconderijos pessoais. É como se pudéssemos entrar em contato com nossos próprios medos, mas ao mesmo tempo enfrentá-los, como nos pesadelos, onde temos que lutar para viver. A minha contraditória pessoal faz com que eu me sinta hipnotizada por esse tipo de arte, é complexo, é pra ser visto com os olhos, porém sentido com a alma. É arte pra se perder dentro dela.

A artista em si, ao que me parece, não é uma pessoa muito pública, o que chega a ser irônico, pois ela revela a sua alma em seu íntimo mais obscuro, mas são pouquíssimas as informações encontradas sobre a moça, ela também não fala muito sobre suas obras, recusa-se a defini-las e esse é um dos pontos mais incríveis sobre ela, pois assim, ela nos permite expandir ainda mais a mente diante de suas criações. Eu quando observo uma obra, tenho lembranças de coisas que talvez não vivi, mas sei que são lembranças, tenho vários flashes, tenho também memórias que vivi e há muito já havia esquecido, sinto coisas que já senti antes e coisas que nem sabia que poderia sentir. Me sinto parte da obra, me coloco dentro dela. Quando você vê uma pintura e sabe o que ela significa, a sua viagem pela mesma se torna limitada, você sabe que aquilo que interpreta é pessoal, mas também sabe que não compartilha dos mesmos sentimentos que o autor da obra, você não se sente íntimo e a obra passa a ser apenas um agrado de leve aos olhos. Mas as obras cobertas de mistério agradam e também agridem, sentimos como se estivéssemos sendo despidos pelo artista e caminhamos nus dentro da sua criação, não temos certeza de que o que sentimentos talvez não tenha sua parcela de realidade. Nesse caso, tudo é possibilidade. Tudo é sim e não ao mesmo tempo.

Aleksandra Waliszewska é uma incógnita, mas ao mesmo tempo, é um livro aberto. Eu sempre pensei sobre artistas - nesse caso, agora, envolvendo a arte como um todo, pintores, escritores, escultores, atores, músicos - e por qual motivo eles são considerados ídolos. Quando eu era mais nova, via inspirações de vida em todos os meus artistas favoritos, porque gostava de suas músicas ou porque gostava de algum filme que faziam, mas essa é a parte superficial e sem valor, não é o que os define como pessoa, não é o individual de cada um deles. Não durou muito tempo para que eu começasse a me interessar pela história dos artistas e, logo, filtrar meus ídolos como indivíduos avulsos, pessoas como eu e não pessoas acima de mim. Um ídolo ou uma inspiração, da forma que eu vejo hoje, é aquela pessoa que você gostaria de passar um tempo conversando ou que gostaria de seguir os mesmos passos, são pessoas que conquistaram o seu lugar no mundo e oferecem algo que, ultimamente para mim, tem sido essencial buscar em qualquer fonte que me garanta isso: esperança de alcançar algo melhor. Ídolos são pessoas que você desejava ter o coração tão grande quanto, são pessoas que aprimoram a sua capacidade de sentir alguma coisa. Hoje tento focar as minhas frustrações no fato de que, com um pouco de esforço, posso sair de onde estou, posso mudar a minha história. E meus ídolos tem parte nisso, me mostrando que isso é possível. Mas mais do que isso, vejo eles pelo trabalho que fazem, o legado ao qual eles dedicam suas vidas, hoje prefiro dizer que sou muito mais inspirada pela arte produzida por alguém do que pela pessoa em si, salvas algumas exceções.

A arte tem um poder infinito sobre a minha persona. Quando estou a olhar para uma ilustração confusa, estou na verdade tentando me colocar ali dentro e fazer parte daquilo que vejo. Quando estou escrevendo, estou tentando me posicionar no mundo como alguém que compartilha algo que considera útil para si e que pode também ser útil para mais alguém. Hoje vejo que, se pelo menos uma pessoa apreciar o que eu faço e souber me reconhecer, eu já estou fazendo valer à pena os tapas que eu levo da vida. Se eu sou capaz de inspirar algo em alguém, é certo que vou tentar fazer isso. Quando escrevo minhas crônicas abstratas, estou deixando pra trás pedacinhos de mim mesma, derrubando-os pelo meu caminho. A arte está nos pequenos detalhes, é o impacto que ela causa tem proporções gigantes nas vidas de quem recebe a sua arte. É uma pena eu não saber pintar ou desenhar majestosamente, mas acredito que também estou deixando algo importante quando me expresso com as palavras. Toda arte é arte e merece ser apreciada.

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Sugiro que tire um tempo apenas para observar um pouco da obra da Aleksandra Waliszewska. Permita que sua imaginação tome lugar na obra, permita que seus sentimentos se misturem aos sentimentos contidos na imagem:

 
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Aleksandra Waliszewska no Flickr
  
   
 
THE CAPSULE 
 
Filme que, infelizmente, não tive a oportunidade de ver ainda, 
pois não o encontro em lugar algum.


TRAILER:


IMAGENS:

  
   
   

terça-feira, 25 de junho de 2013

Skins não influencia ninguém

Geralmente costumo ficar bastante reflexiva sobre as coisas que assisto e como não faz muito tempo que eu terminei de assistir a segunda geração de Skins - na verdade mesmo, eu terminei ontem -, achei que seria válido falar um pouco sobre o que eu penso da série e também um pouco da minha opinião pessoal sobre o próprio título do post, então aqui está o motivo de eu não achar que Skins influencie os tais jovens a fazer o que é errado.

Primeira Geração
Segunda geração

Primeiramente... 
'Nossa, Alle, mas só agora você acabou a segunda geração?'
Sim, só agora. Uma coisa que me ocorre constantemente é de início uma extrema rejeição diante de algo para depois de um tempo essa rejeição acabar se tornando apreciação. Isso acontece com séries, filmes, bandas, livros e até mesmo com pessoas e geralmente é a minha resposta diante de mudanças, quando eu não as aceito de imediato, então eu demoro um tempo enorme até me adaptar e, durante esse processo, tenho essa tendência de rejeitar as coisas, dizer que não gosto, que não quero nem saber, sou bem extremista com essas coisas. E foi exatamente o que aconteceu com Skins. Quando eu terminei a primeira geração, lá pelos meus 17 anos, tudo era lindo e maravilhoso, a série era um retrato das minhas aventuras adolescentes com os meus coleguinhas, eu tinha ali os meus personagens favoritos e tudo ia muito bem, obrigada! Até que a série muda de geração. (!!) Eu tentei assistir a terceira temporada (introdução à segunda geração), mas simplesmente não conseguia aproveitar quase nada do que via, nem os personagens, nem a história de nenhum deles, a única coisa que eu gostava um pouco era da história paralela da Emily com a Naomi, mas até isso me pareceu meio cansativo e, na minha cabeça, a série tinha se tornado um lixo, então deixei de lado, abandonei mesmo. Só que esse tipo de raiva instantânea que eu crio diante das coisas não costuma durar muito tempo, fui conversando com uma amiga aqui, outra ali e eu acabei criando novamente a curiosidade e o gosto pela série, só que aí eu já estava envolvida com outras séries e outros assuntos totalmente diferentes, logo, a série sobre teenagers problemáticos não parecia mais me envolver tanto como envolveu na época em que eu a descobri. Só que isso também era pura besteira. Quem me conhece - e até mesmo quem não me conhece - sabe que eu não recuso nada que me permita fazer análises psicológicas amadoras e que esse é meu campo de estudo favorito e logo eu me dei conta disso e assim sendo, resolvi dar uma nova chance assim que as outras séries que eu vejo entraram em hiatus e depois também que eu me atualizei um pouquinho mais nas que já estava vendo e que já tinham acabado. E também, eu senti um bocado de saudade de assistir uma série um pouco mais normal, onde a ficção se foca somente nos exageros comuns dessas séries de dramas familiares, nada de aliens com dois corações, pessoas que vão pro inferno e voltam e lutam contra anjos e demônios por toda parte, pessoas que matam como se não houvesse amanhã e nada lhes acontece, cirurgiões plásticos que se deparam com as mais bizarras situações, isso tudo realmente se faz presente nas séries que eu costumo ver, quase nenhuma delas se encontra no rótulo de série familiar ou série realista.

'Ah, mas Skins também não é realista, Alle.' 
Eu preciso discordar dessa afirmação com todas as minhas forças, porque ela é equivocada demais. Skins é realista, sim. É realista até demais. Eu não sei em qual mundo estão com a cabeça os gênios que criaram a nossa boa e velha (e brasileiríssima!) Malhação. Eu gostaria muito de encontrar gente que concorde que adolescentes realmente agem daquela forma e que as rebeldias que eles fazem nessa novela são realmente o ápice de rebeldia ao qual um adolescente pode chegar, ao menos na cabeça deles. Mas é claro que no mundo real isso não existe, é absurdamente utópico. Eu sei do que falo nessa pequena área, mesmo sendo nova demais e, nas palavras do meu pai, não saber de nada sobre a vida, e sei por motivos diversos. Um deles, talvez o principal, é o fato de que eu mesma já fui uma adolescente com os meus problemas, as minhas dúvidas, as minhas crises de identidade e os meus surtos psicóticos e eu não ia até a lanchonete mais próxima da minha casa ou a mais popular da cidade pra beber um suco com a galera, não mesmo. Eu ia pra rua encontrar meus amigos - e na época os considerava realmente inseparáveis - pra gente juntar as moedinhas pra comprar uma bela de uma garrafa de vodka e cigarros e se sobrasse dinheiro, quem sabe um suquinho de pacotinho daqueles de cinquenta centavos pra misturar, só pra bebida descer.
Eu estive exposta ao mundo, mas a diferença ou talvez o sorte, até, é que eu sou esperta o suficiente para não ter permitido que o mundo tirasse vantagem de mim. E eu tive diversos amigos que estiveram expostos assim como eu, por vezes até, na mesma época em que eu estive e eles foram pelo outro caminho, o caminho errado. Os que deixaram o mundo cair com todo o seu peso em cima deles e aí não eram mais shots de vodka e bebidas baratinhas que eram capazes de conter o desespero e a dor, eram drogas, das mais ridículas e inofensivas até as mais fortes, apenas porque eles precisavam sentir alguma coisa. Então eu realmente não sei que mundo paralelo é esse de onde saem as ideias para a Malhação, onde os jovens são tão pacíficos e tranquilos como os retratados na novela. A única resposta mais plausível que eu tenho pra isso é a seguinte: ou eles não são jovens ou são, no máximo, os jovens vistos pelos olhos dos pais. Sejam estes pais ausentes ou superprotetores, mas eles sempre irão ver os filhos como bons filhos, sempre vai ser culpa da influência, mas este é um ponto no qual eu ainda pretendo chegar.

Skins, em contrapartida, oferece o universo dos jovens visto pelos olhos dos próprios jovens. Toda a angústia, todos os problemas pessoais, todos os problemas familiares que recaem sobre os filhos. E, o mais importante, como eles lidam com essas questões e, também, como os pais lidam com seus filhos ou como eles não lidam, por ser difícil demais, por terem medo ou simplesmente porque não se sentem capazes, isso também acontece, pessoas são cheias de defeitos, filhos e pais também estão inclusos, pois também são seres humanos. Eu já ouvi de diversos amigos meus, alguns anos atrás, que tinham de assistir Skins de madrugada ou quando os pais não estavam em casa porque eles não podiam pegá-los no flagra, como se estivessem fazendo algo ilegal. O que já começa por aí, tudo começa nas restrições e no medo que cria uma barreira intransponível entre pais e filhos. A minha dúvida é clara: por que eles não podiam ver? Eu, particularmente, fui criada num ambiente com menos restrições do que a maioria das pessoas que eu conheço, mas também tive algumas, também criei minhas barreiras e medos entre eu e os meus pais - e principalmente entre eu e o meu pai. Mas a falta de algumas dessas restrições me fez ter a mente mais aberta - e eu agradeço por isso - logo, sou uma das pessoas que pode dizer com bastante segurança que Skins não faz apologia às drogas tanto quanto aparenta, tanto quanto a mídia faz parecer. Na verdade, eu penso que se talvez todos esses pais deixassem seus preconceitos de lado e conseguissem acompanhar pelo menos uma temporada inteira da série, é certo de que eles saberiam melhor como lidar com seus filhos e entenderiam que das proibições é que explodem as rebeldias. Perceberiam que nem sempre o dinheiro resolve todos os problemas e que é importante ter uma relação boa com os filhos, que é importante que eles sejam ouvidos e que também é muito importante que eles possam ter sua individualidade, sua privacidade, afinal de contas, são vidas avulsas, passaram a ser a partir do momento em que o cordão umbilical foi cortado e a conexão entre mãe e filho passou a ser apenas a espiritual, se essa barreira também se quebra ao longo da vida por causa dos medos e das proibições, por causa do desejo de ser uma boa mãe ou um bom pai, é essa a marca que vai ficar gravada para sempre nos dois indivíduos.

Eu compreendo que os pais não aceitem que os filhos crescem. Na verdade, chega a ser um processo contínuo, mas eu acredito que em algum momento da vida, as pessoas simplesmente esquecem as experiências passadas. O crescer, para mim, está todo ao redor do ato de esquecer as experiências bobas da adolescência e começar a se preocupar com formação, dinheiro e família. Afinal, a vida se resume a isso, não é verdade? Só que eu discordo. Pais projetam nos filhos sonhos que não puderam realizar e esperam que os filhos se tornem uma extensão deles próprios, assim como os pais deles também esperavam isso e em retrocesso o ciclo se cumpre durante milênios, mas não é assim que as coisas funcionam na prática, não é esse o curso da vida. As pessoas reproduzem, os filhos nascem para perpetuar a espécie, mas eles nascem com seus próprios sonhos, seus próprios desejos e suas próprias vontades, eles são seres individuais e não fazem ideia de que já nasceram com uma proposta e que precisam superar expectativas criadas antes mesmo de virem ao mundo. Expectativas estas que jamais foram as suas próprias, pra começo de assunto. E aí, precisam conciliar essas expectativas alheias com as suas próprias. É claro que pra fugir disso eles vão procurar por coisas que os tornem diferentes dos outros o quanto for possível, eles procuram se individualizar, mas como nenhum ser humano é isolado, eles logo se reconhecem, percebem os outros que também querem escapar das expectativas que os cercam e com isso, eles criam laços. São laços fortes, mas às vezes perigosos, pois estão perto de pessoas que entendem o que eles estão passando. Mas a influência não parte daí, a influência parte de onde começa o desejo de cada um deles de se libertar dos pais, de fazer algo por eles, algo que não estava nos planos de outra pessoa.

Uma coisa que eu sempre tive em mente desde criança é isso, os pais não estão protegendo de verdade os filhos quando os proíbem de fazer algo. A maioria deles sempre vai arranjar um jeito de fazer algo proibido, mesmo os que são folhos de pais mais rígidos. Até mesmo os pais que resolvem trancar os filhos não estão livres da bomba-relógio que tem nas mãos, eles podem até protegê-los dos hematomas externos ou apenas livrar a si próprios da culpa caso algo dê errado na criação, mas esses que foram contidos são marcados internamente, alguns se tornam agressivos demais, outros calados demais, estes guardam segredos e se isolam e seus pensamentos são de dar medo. Descontam suas dores nos outros ou em si mesmos, criam obsessões, vícios. E logo, aquilo que era proteção se torna o maior motivo de todos os problemas. Não, eu não estou culpando os pais e justificando os atos rebeldes dos filhos, o que estou tentando mostrar é que cada ação traz consigo a sua reação e que jamais um castigo vai ter mais poder do que uma conversa franca e uma demonstração de que os pais são alguém em quem se pode confiar. Isso tudo se trata de medo. Medo dos pais em aceitar que os filhos na verdade não lhes pertencem, de aceitar que eles pertencem somente a si próprios e ao mundo. E também o medo dos filhos, ao mesmo tempo em que o prazer proibido de fazer o contrário do esperado também surge. É criada uma relação de medo e segredos entre os pais e os filhos.

E onde a série se encaixa nisso tudo? Na questão dos caminhos tomados pelos jovens pra esquecer dessa pressão toda sobre eles. Da pressão dos pais, da pressão social, da pressão deles mesmos. Cada personagem tem uma história individual que quando acompanhada, nos leva a entender que a "rebeldia sem causa" nunca é realmente sem causa. Eu sou da opinião de que qualquer motivo é um motivo, porque é mesmo. A gente nunca sabe se aquilo foi o suficiente pra quebrar a mente de uma pessoa, mesmo pensando no quanto aquela pessoa foi fraca por se deixar abater por aquilo e mesmo pensando que nós mesmos jamais teríamos procedido daquela forma. Mas pode apostar que alguém também pensa o mesmo sobre você, quando é você quem quebra pelos seus motivos pessoais. Eu não estou julgando ou subestimando as dores de ninguém, longe disso, o que estou querendo dizer é que os seus motivos são seus e ninguém tem nada a ver com eles e você também não tem nada a ver com os motivos das outras pessoas. Cada mente é uma mente diferente. E não é possível mandar na mente alheia, por mais que se possa controlar alguém, os pensamentos dela continuam ali e no final das contas, isso vale mais do que qualquer ordem.

Eu estou feliz de ter perdido meu preconceito com a série, pois dessa vez eu pude assisti-la com outros olhos, pude acompanhar cada drama individual dos personagens e pude analisá-los, compreendê-los exatamente da mesma forma que aconteceu quando vi a primeira geração. Claro que ainda tenho as minhas rejeições, os personagens que gosto mais, os que gosto menos, os que ainda quero falar individualmente sobre. Mas uma coisa que eu sempre quis foi comentar sobre essa minha incompreensão a respeito da restrição dessa série, como se ela fosse realmente o incentivo crucial aos adolescentes e os levasse a fazer coisas erradas. Na verdade, eu sempre vi o contrário, sempre vi os prós e os contras que são mostrados através de cada atitude pelos personagens, o uso de drogas e o que isso traz de ruim, o abuso nas bebidas e como isso os prejudica, mas também o momento certo de se divertir, o momento em que eles, por si próprios, caem na real e dão um rumo às suas vidas. O problema não está em ser influenciado por uma série, ou por uma novela, um livro ou um filme, o que quer que seja, mas sim na cabeça de quem assiste e precisa de algo para culpar, quando na verdade é apenas a falta de coragem de assumir a culpa sobre os próprios desejos e as próprias vontades. Eu não sei se sou a única pessoa que vê as coisas desse modo, mas influência, do meu ponto de vista é apenas isso: falta de coragem e de dignidade para assumir os próprios atos, afinal, ninguém faz algo que não deseja fazer se realmente não desejar isso, ao menos que a pessoa esteja sendo obrigada. É raramente é esse o caso.
Pra mim, é tudo uma questão de consciência.