quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Little Lost Girl

Mas que porra você tá fazendo?

Eu digo para mim mesma, mas em silêncio, sabendo que mesmo que eu fale em voz alta ninguém ali vai me ouvir. Porque ninguém está interessado ou talvez porque ninguém realmente seja capaz de parar e ouvir realmente. Mesmo os que ouvem, não ouvem porra nenhuma.
O canudo de cinquenta dólares preso entre os meus dedos. Esse é o único dinheiro que eu tenho, mas sei que até isso aqui acabar, não vou nem saber onde eu enfiei e vou voltar pra casa andando como sempre. Seguro firme, no entanto, pois eu sei o que eu estou fazendo. Ou eu sabia. O indicador trancando a minha narina, a adrenalina feroz invadindo o meu nariz. Invadindo o meu corpo. Me completando, me abraçando. Repetir o ato? É claro, nada é mais simples. Eu sabia exatamente o que eu estava fazendo. Não sabia? Não sabia… Ah, sabia. Sabia sim. Ah, eu sei sim… Eu sei o que eu estou fazendo. Eu estou completamente bem.
Sinto toda a euforia, meu corpo está vibrando. Se quero dançar? Talvez eu queira. Talvez eu queira transar também. Não faz mesmo muita diferença, se eu for dançar algum otário vai dar um jeito de passar as mãos em mim e eu nem vou perceber. E todas as pessoas aqui possuem o seu rosto, mas você não está aqui. Você está longe.

Foda-se. Dê-me um pouco mais.

É meu cérebro, é minha mente, juro que não sou eu! O canudo não está mais tão firme entre os meus dedos, mas acredito que seja o suficiente para continuar. Enquanto eu ainda souber que ele está ali, posso pensar em ir embora e acabar com essa ideia idiota. Eu não sei porque eu estou tremendo tanto, não sei porque o meu nariz arde desse jeito, não costumava ser assim. Parece que eu levei um golpe certeiro bem no meio das fuças. Sangue? Que sangue? Talvez esse seja o meu sangue. Sinto escorrer pelo meu nariz, sei que deveria me preocupar, mas e daí? É, este é mesmo o meu sangue.

Venha aqui, me dê um pouco mais. Vamos acabar logo com isso.

Acho que agora realmente quero transar, mas tem que ser com você. Só que você não está. E você queria estar. Você e só você deveria estar aqui pra me dizer que já chega, pra me levar pra casa. Pra cair na minha cama, nos meus encantos. Mas você não está, então que diabos? Vamos, vamos, me dê um pouco mais e por favor, acenda o meu cigarro.
Qualquer um aqui tem o seu rosto depois de tudo que eu enfiei pela garganta e também pelo nariz. De qualquer forma, vou transar com você essa noite. Vou amar você essa noite e todas as outras noites da minha vida. Você nunca esteve aqui, mas está aqui o tempo todo.
Me segura no teu pensamento, eu não quero que você saiba que hoje o sangramento durou mais que da outra vez. Não quero que você saiba que eu tô fazendo merda, sem nem saber porque eu tô fazendo. Eu sabia o que era, eu só preciso me lembrar. Que porra eu tô fazendo? Ah, eu costumava saber… Eu costumava entender.

O que diabos acontece? Como eu vim parar aqui?

O silêncio é minha testemunha, meu confidente, meu melhor amigo. Melhor não tentar outra vez, talvez beber um pouco mais, mas essa merda não vai adiantar. Isso não vai passar. Eu tô é ficando louca, tão louca que nem sei mais onde eu estou. Quem é você? Onde você está? Vejo o seu rosto em todas as pessoas que estão aqui, mas você não é nenhuma delas. Tudo que eu queria era que você viesse me buscar, acho que não estou me sentindo muito bem. Voltei a sangrar, mas acho que por dentro. Eu sempre estou sangrando por dentro.

Foda-se. Quero um pouco mais. Quero sentir o que não sou capaz. 

Penso tudo, penso tanto. Mas não falo nada. Sequer tento. Mas aqui ninguém vai ouvir. Todo mundo quer falar, no entanto. Essas pessoas só servem para sustentar o seu rosto, pois olho pra elas e todas elas aqui se parecem com você. Já nem sei mais o quanto eu bebi e o quanto eu cheirei. Eu tô fodida, eu sei que eu tô. Eu nasci pra ser assim, eu nasci pra viver assim. E se eu não posso ter você, então deixa eu apenas me foder. Deixa apenas eu te ver em todo o rosto que não é seu. Deixa eu continuar com essa ilusão de que você está em todos os lugares onde eu olho. Quem sabe eu acerto, quem sabe um deles seja você de verdade. Quem sabe você veio me buscar.

Onde eu vim parar? 

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