quinta-feira, 20 de junho de 2013

Giullia

"I picked you out of a crowd and talked to you. Said I liked your shoes, you said, “Thanks, can I follow you?” So it’s up the stairs and out of view, no prying eyes. I poured some wine, I asked your name, you asked the time. Now it’s two o’clock, the club is closed and we are up the block. Your hands are on me pressing hard against your jeans. Your tongue in my mouth trying to keep the words from coming out. You didn’t care to know who else may have been you before. I want a lover I don’t have to love, I want a girl who’s too sad to give a fuck." 


Devia ser muito mais de meia noite e estava frio. Eu tentei não fazer barulho ao me mexer na cama, me virando para o lado oposto ao que eu estava. Virada agora para o meu lado, dormia uma menina, eu sorri quando ela se mexeu e fez um grunhido baixinho e então algumas mechas do seu cabelo naturalmente loira caíram em seu rosto e ela sorriu, dormindo. Talvez estivesse sonhando, eu não sei, mas aquela cena me confortava, como em anos eu não me sentia confortável. Eu confesso que um pouco de culpa ainda ficava rodeando a minha cabeça, pois ela devia ser mais ou menos uns quatro anos mais nova do que eu. Eu sabia que para ela estar ali, precisou contar uma mentira para os pais. Ou talvez ela tenha fugido deles só para me ver, eu não sei. Eu não sabia muito sobre ela. A conheci numa festa, quando ela estava completamente bêbada, surpreendente foi o fato de que ainda assim ela se lembrou de mim. Eu não esperava isso, principalmente pelo fato de que geralmente as pessoas não costumam se lembrar de gente que elas conhecem em festas. Mas essa se lembrou. E muito mais do que isso, ela também se lembrou perfeitamente do momento em que esbarrou comigo e nós duas rimos, então ela começou a dançar perto de mim. Eu não pude resistir, ela era uma das garotas mais bonitas que eu já tinha visto, eu a acompanhei até que nós já estávamos nos beijando. Ela ficou com o meu casaco naquela noite e, acredito eu, tenha esquecido de me devolver de propósito quando foi pra casa. Mas ela me encontrou depois, o casaco foi uma desculpa para que eu fosse encontrá-la e mais uma vez estávamos lá nos beijando. Isso aconteceu mais algumas vezes e então eu a convidei para assistir um filme comigo em casa. E ela veio. O filme, certamente, não lembro qual era, escolhemos aleatoriamente algum na TV, mas não chegamos a ver muito dele. Eu tive amor naquela noite, não amor daqueles que se pode esperar passar uma vida toda com a pessoa, não, não esse tipo de amor. Mas eu tive todo o prazer de ter algo nas minhas mãos que naquele momento não iria sair correndo de mim, pois ela não estava assustada. Sexo sempre teve um significado muito complexo para mim, talvez porque, diferente das outras pessoas, eu não tratava como se fosse algo qualquer. Tinha algo sobre o sexo, que para mim era quase impossível de explicar, mas o que chegava mais próximo de uma explicação era sentir-se conectada à pessoa naquele momento. Sua mente não se dispersa, você não viaja para realidade alguma, pois é naquele momento em que tudo está sendo real demais para que você possa se dispersar. E naquela noite, estivemos conectadas. Giullia e eu estivemos conectadas, como há muito tempo eu já não me conectava ao mundo. Ela me trouxe de volta a realidade, que eu vinha evitando por mais tempo que eu podia contar. Era incrível, até, pois como já havia mencionado, a menina era vários anos mais nova do que eu e ainda assim parecia ter coisas sobrando para me ensinar. Eu passei tanto tempo desconectada desse mundo que nada mais para mim soava como realidade, eu me sentia o tempo todo flutuando dois pés acima do chão e minha cabeça estava sempre voando mais alto, no céu e além ainda, pelas galáxias e pelo universo todo. E Giullia me trouxe de volta a realidade, colocou meus dois pés no chão, bem firmes. Me fez sentir a realidade e para mim, esse foi o grande choque. Perdida em meus pensamentos, enquanto observava o rosto dela, mal pude perceber quando ela abriu os olhos - grandes e azuis, os mais bonitos que eu já tinha visto -, meramente e ajeitou o rosto no travesseiro para me olhar e então ela sorriu.
“Você é tão bonita, ruiva…” Sorri quando ouvi ela falar, naquela voz rouca e arrastada, deliciosa de ouvir. Aquilo me dava mais certeza ainda de que tudo aquilo era pura realidade. Levei meus dedos até o rosto dela, sentindo sua pele macia e me aproximei, nossos lábios se tocaram de forma suave, mas era como se uma corrente elétrica estivesse me dando um choque ao percorrer todo o meu corpo. As mãos dela também vieram parar no meu rosto, naquele toque suave que ela tinha e senti ela sorrir algumas vezes contra os meus lábios enquanto a gente se beijava.
Depois de um tempo, ela se aninhou perto de mim novamente e eu fiquei apenas ali, fazendo carinho em seus cabelos, enquanto ela fazia traços e caminhos com apenas dois dedos em cima da minha barriga. Aquilo era tão real que pela primeira vez eu não tinha vergonha de mim, não estava preocupada, porque ela me mostrava segurança, eu sabia que ela estava ali porque queria, ela veio porque queria estar ali. E eu a abracei como se naquele momento ela fosse o meu mundo todo. Eu não a amava, mal conhecia a menina, mas naquele momento ali, naquele exato segundo ela era a minha realidade. Não importava se por uma noite, não importava nada.

Aprendi a amar os momentos da minha vida, como se cada um desses nanossegundos significassem a minha vida. Amava o momento e consequentemente, cada pessoa que estava participando daquele momento, ao mesmo tempo que eu não amava nada. Eu não precisava amar e ela não me amava. Mas a gente estava se amando naquele momento. Eu estava apaixonada por aquele instante. Por uma noite, eu me senti bem. Eu estava salva e segura presa naquele instante. Era complexo demais para que eu pudesse explicar, mas poderia apenas dizer que ninguém faz ideia de quantas coisas você pode sentir quando seus pés tocam o chão pela primeira vez em anos.

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